Pasteurelose


É uma enfermidade muito contagiosa, comum em coelhos domésticos, transmitida tanto por contato direto como indireto. O agente etiológico é a Pasteurella multocida. Aparentemente, os coelhos desenvolvem pouca imunidade após a infecção; muitos são portadores assintomáticos e perpetuam a enfermidade na coelheira. Um teste de imunofluorescência indireta, para uso em “swabs” nasais, é eficiente na identificação de portadores, que podem corresponder a 30 a 90% dos coelhos aparentemente saudáveis em colônias convencionais.

Uma técnica nasofaríngea pediátrica, que utiliza pequenos “swabs” umedecidos em solução salina, tem-se mostrado superior ao grande “swab” nasal padrão. Direciona- se o “swab” medialmente através das narinas, passando-o ossos turbinados e sobre a superfície dorsal do palato mole. Pode-se então retrair o “swab” e usá-lo em um teste de imunofluorescência ou na semeadura de um meio de cultura. Um teste de ELISA, recentemente desenvolvido para a detecção de anticorpos contra P. multocida, também se mostrou benéfico na detecção de portadores. As infecções por P. multocida podem-se manifestar como qualquer um dos seguintes sintomas: rinite (coriza), pneumonia, otite média, conjuntivite, abscessos, infecções genitais ou septicemia.

O diagnóstico se baseia nos sinais clínicos e no isolamento de P. multocida. O tratamento é difícil e não erradica o microrganismo. Os antibióticos parecem oferecer somente uma remissão temporária dos sinais, e o próximo período de estresse (por exemplo, um parto) pode causar recidiva. Como não se desenvolveu uma vacina eficaz, o melhor método de controle consiste em descarte estrito. Usa-se correntemente a prática de se estabelecer colônias-tampão de coelhos de laboratório livres de Pasteurella.

A rinite (coriza ou catarro nasal) é uma inflamação induzida por Pasteurella, que é aguda, subaguda ou crônica, e atinge as membranas mucosas das passagens de ar e pulmões. O sinal inicial corresponde a um exsudato seroso e fino a partir do nariz e dos olhos, que mais tarde se torna purulento. O pelame da região interior das patas dianteiras, logo acima dos pés, apresenta-se emaranhado e emplastrado com um exsudato seco, como resultado do arranhamento do focinho com as patas. Os animais infectados geralmente espirram e tossem.


Geralmente a coriza ocorre quando a resistência do coelho está baixa. Os animais que aparentarem se recuperar, permanecem portadores. Pode-se seguir pneumonia.

Os abscessos causados por Pasteurella podem ser encontrados em qualquer parte do corpo ou da cabeça. Todas as idades são suscetíveis. Quando se colocam machos em uma mesma gaiola, seus ferimentos de luta frequentemente abscedam. Na maioria dos casos, é aconselhável eliminar o coelho infectado em vez de tratá-lo. A afecção pode terminar em septicemia e morte em 48h. A necropsia pode revelar congestão bronquial, traqueíte, esplenomegalia e hemorragias subcutâneas.

Uma incômoda infecção genital é quase sempre causada por Pasteurella, mas vários outros microrganismos também podem estar envolvidos. Manifestada por uma inflamação aguda ou subaguda do trato reprodutor, é mais frequentemente encontrada em adultos, e mais freqüentemente em coelhas que em coelhos. Se ambos os cornos uterinos estiverem afetados, as coelhas se tornam quase sempre estéreis; se apenas um corno estiver envolvido, pode-se desenvolver uma ninhada normal no outro. O único sinal de piometria nas coelhas pode ser uma descarga vaginal espessa e cinzento-amarelada.

Os coelhos podem eliminar pus pela uretra, mas geralmente se observa orquite. É muito provável que ocorra infecção crônica da próstata e vesículas seminais, e já que pode haver transmissão venérea, é melhor descartar o animal. A gaiola infectada e seu equipamento devem ser completamente desinfetados. No caso de um reprodutor valioso, podem-se usar antibióticos para combater a infecção, no entanto, o prognóstico é ruim.

A pneumonia, que não é incomum em coelhos domésticos, pode ocorrer em adultos ou infectar os filhotes enquanto estiverem na caixa-ninho. Freqüentemente, é um fator complicante e secundário no complexo da enterite. A causa é bacteriana, com P. multocida sendo responsável pela maior parte dos casos. Outras bactérias envolvidas podem incluir Klebsiella pneumoniae, Bordetella bronchiseptica e pneumococos. A enfermidade do trato respiratório superior (coriza) é quase sempre um precursor da pneumonia. Ventilação, higiene e material de cama inadequados são fatores predisponentes. O número de casos de pneumonia é diretamente proporcional ao nível de amônia em uma coelheira.

Os coelhos sucumbem geralmente dentro de 1 semana após o aparecimento dos sinais. Os coelhos afetados ficam inapetentes e apresentam febre (40oC), dispnéia e prostração. A necropsia revela broncopneumonia, pleurite, piometria ou petéquias no pericárdio. O diagnóstico depende dos sinais e lesões. O tratamento consiste em oxitetraciclina, clortetraciclina ou penicilina.

As combinações de penicilina e estreptomicina também são úteis e podem ser eficazes para infecções mistas. Entretanto, o tratamento quase sempre falha porque a pneumonia já está avançada antes de ser detectada.

Os coelhos machos adultos e filhotes parecem particularmente suscetíveis à conjuntivite (olho lacrimejante) causada por P. multocida, porém a incidência é baixa. A transmissão ocorre por contato direto ou fomitos. Os coelhos afetados coçam seus olhos com as patas dianteiras, e o exsudato pode variar quanto a consistência e cor. Qualquer pomada oftálmica comum, que contenha sulfonamidas, antibióticos ou somente antibióticos e um esteróide, é satisfatória para o tratamento, mas a recidiva é comum. Nas infecções profundas, devem-se administrar injeções de penicilina. A lavagem do duto lacrimal com uma solução antibiótica é quase sempre benéfica em coelhos de exibição cronicamente afetados. A conjuntivite também acompanha a varicela do coelho e a mixomatose.

Fonte: Manual Merck de Veterinária: um manual de diagnóstico, tratamento,

prevenção e controle de doenças para o veterinário / Clarence M. Fraser, editor. -- 7. ed. -- São Paulo : Roca, 1996

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