MANEJO, CRIAÇÃO E DOENÇAS DOS COELHOS


MANEJO E CRIAÇÃO
A aplicação consistente dos princípios de higiene, reprodução, nutrição e controle das enfermidades faz a diferença entre sucesso e fracasso na criação de coelhos. O uso de equipamento apropriado na coelheira também é de importância fundamental. O que se segue é o resumo desses princípios, primariamente como se aplicam a coelhos mantidos como animais de estimação, e usados para produção comercial de peles, forrações e carne.

Alojamento – As necessidades de alojamento dos coelhos dependem do clima. Pode-se utilizar o alojamento mínimo (telhado em forma de “A”, sem lados) nos climas moderados, enquanto pode ser necessária uma coelheira com controle de temperatura em áreas com calor ou frio excessivos. As coelheiras devem estar localizadas perto do nível do chão e utilizar solos bem-drenados ou fossas revestidas por azulejos para o destino das fezes. Deve-se providenciar sombra na maior parte possível da coelheira. A boa ventilação é imperativa a todo o momento. Os prédios estreitos, de construção modular, oferecem a vantagem de facilitação da ventilação e da expansão quando necessário.

Gaiolas e equipamentos auxiliares – É preferível usar gaiolas completamente fabricadas de arame. O tamanho normal é de 75 ´ 90cm, com altura de 40 a 45cm.

Uma gaiola do estilo semicircular metálica (teto arredondado), com a porta na frente, torna todos os cantos acessíveis. As gaiolas devem ser construídas com arame soldado de 2,5 ´ 5cm para o teto e lados e com arame soldado de 1,25 ´ 2,5cm para os pisos. As divisórias das gaiolas podem ser feitas do mesmo material que o teto e os lados ou com um tipo de arame chamado “salva-crias”, no qual a dimensão da tela (2,5 ´ 5cm) é progressivamente reduzida para 1,25 ´ 5cm. Isso evita que os coelhos neonatos, nascidos sobre o arame, rastejem de uma gaiola para outra. Durante sua fabricação, o arame pode ser galvanizado antes ou depois da soldadura; o primeiro tipo é mais caro, porém sua duração é consideravelmente maior. Deve ser evitado o uso de madeira na construção de gaiolas, pois este material pode ser mastigado e não pode ser higienizado adequadamente. A gaiola deve estar equipada com um recipiente para alimentos granulados e um sistema de bebedouros. Os recipientes para alimento são melhor construídos com uma chapa de metal com orifícios ou uma tela no fundo para remoção de “pó” (pequenas partículas de alimento quebrado). Nas coelheiras grandes, são usados sistemas de bebedouros automáticos, formados por uma série de tubos conectados com válvulas individuais para beber água em cada gaiola. Os coelhos quase sempre mastigam a válvula de beber água e finalmente a destroem, a menos que seja feita de aço inoxidável ou possua uma peça central inoxidável. Preferem-se garrafas com tubos restritivos de quantidade de água, mas potes de barro e latas também são usados nas coelheiras pequenas. A contaminação dos potes de barro ou lata abertos precisa ser monitorada com cuidado; seus efeitos podem ser diminuídos através da lavagem e desinfecção diária dos recipientes.

As caixas-ninho devem ser construídas de tal forma que possam ser facilmente colocadas na gaiola e mais tarde removidas para limpeza e desinfecção entre as camas. A desinfecção da caixa-ninho por duas vezes, uma antes da limpeza e novamente logo após colocá-la na gaiola, ajuda a reduzir a incidência da doença.

A caixa deve ser grande o suficiente para evitar a lotação, mas pequena o bastante para manter os filhotes aquecidos. O tamanho padrão da caixa-ninho para coelhos de tamanho médio é de 40 ´ 25 ´ 20cm. As caixas-ninho de madeira parecem funcionar melhor, mas as de arame soldado com revestimento de papelão descartável estão se tornando populares. O material para a cama do ninho, que consiste de palha, maravalhas de madeira ou cana-de-açúcar cortadas em tiras, serve bem tanto para tempo quente como frio.

Lote reprodutor – A seleção de animais reprodutores é vital para uma boa reprodução. O potencial genético individual do macho e da fêmea contribui para a produção global da coelheira. Os animais reprodutores de boa qualidade são obtidos de criadores conhecidos por seu êxito na reprodução. Os tipos de animais reprodutores que devem ser selecionados dependem do propósito do criador: carne, lã ou exibição. As melhores raças para carne são as brancas da Nova Zelândia e da Califórnia. As raças comuns para lã são os coelhos angorá ingleses, alemães e franceses. Para exibição de coelhos, a “American Rabbit Breeders Association” reconhece , 40 raças.

Reprodução – As raças de coelhos do tamanho médio chegam à maturidade sexual aos 4 a 4,5 meses, as raças gigantes aos 6 a 9 meses e as raças  pequenas, como o anão polonês e o holandês, aos 3,5 a 4 meses de idade. A coelha apresenta ovulação induzida, mas, ao contrário da crença popular, as coelhas possuem um ciclo de receptividade de acasalamento; são receptivas para o acasalamento em , 14 de cada 16 dias. O grau de receptividade do acasalamento é indicado pela cor do orifício vaginal e pela quantidade de umidade presente nos lábios da vagina. O ciclo de cor vaginal varia de um rosa-esbranquiçado pálido a um roxo-avermelhado.

Uma coelha é mais receptiva quando a vagina estiver roxa e úmida. As coelhas que não estão receptivas apresentam uma cor vaginal rosa-esbranquiçada com pouca ou nenhuma umidade. Muitos criadores testam reproduzir a coelha 16 dias após oacasalamento, como meio de detectar e acasalar com sucesso as coelhas que tenham sofrido gravidez psicológica após o acasalamento inicial.
Uma proporção de 1 coelho para 10 coelhas consiste na prática comum, mas muitos criadores comerciais acreditam que 1 coelho para 20 a 25 coelhas seja mais econômico. Os coelhos podem ser usados diariamente sem diminuir a  sua fertilidade; o uso mais freqüente exige períodos de descanso. A coelha é sempre levada à gaiola do coelho para acasalamento. O programa de acasalamento deve continuar por todo o ano. As coelhas experimentam longos períodos de descanso entre as ninhadas, tendem a se tornar obesas e ter dificuldades de acasalamento.

Aquelas que estiverem constantemente em gestação e lactação podem ficar abaixo do peso, e sua receptividade ao coelho e a fertilidade diminuem  consideravelmente.

O período de gestação é de 31 a 33 dias. As coelhas com um pequeno número de fetos (geralmente quatro) parecem ter um período de gestação mais longo que as coelhas que produzem ninhadas maiores. Se uma coelha não tiver parido com 33 dias de gestação, devem-se administrar 1 a 2UI de ocitocina para induzir o parto; da mesma forma, uma ninhada morta quase sempre nasce após o 34º dia de gestação. Ocasionalmente, as fêmeas prenhes abortam ou reabsorvem os fetos devido a deficiências nutricionais ou enfermidade.

A palpação abdominal 10 a 12 dias após o acasalamento consiste em uma técnica valiosa para detectar fetos no útero, e para as coelhas não danificarem os filhotes. As fêmeas não prenhes são reconduzidas ao coelho para reacasalamento.

As caixas-ninho são colocadas nas gaiolas 28 ou 29 dias após o acasalamento.
Se as caixas forem colocadas muito cedo, as fêmeas sujam os ninhos com urina e fezes. Um ou 2 dias antes da parição, a fêmea arranca os pelos do corpo e constrói um ninho na caixa. As crias nascem peladas, cegas e surdas. Começam a obter pelos no segundo ou terceiro dia após o nascimento e com 10 dias abrem seus olhos e ouvidos. O reacasalamento pode ocorrer em qualquer momento após o parto.

Alguns criadores comerciais utilizam programa de acasalamento acelerado e
reacasalam entre 7 e 21 dias após o parto, enquanto a maioria das pessoas que cria para exibição ou uso doméstico reacasala entre 35 e 42 dias após o parto.

A maioria das coelhas de tamanho médio possui 8 a 10 tetas; entretanto, não é incomum elas parirem 15 a 18 filhotes. Como uma coelha é geralmente incapaz de aleitar todos os filhotes eficazmente, alguns filhotes são “adotados” por outras coelhas. Os filhotes são removidos da caixa-ninho durante os 3 primeiros dias e são dados a uma coelha com ninhada pequena (por exemplo, 8), com aproximadamente a mesma idade. Os filhotes adotados são geralmente aceitos se forem misturados com os próprios filhotes da coelha e cobertos com o pelo desta.

Nutrição – A alimentação é uma importante prática de manejo nas coelheiras.
É fácil superalimentar ou subalimentar fêmeas e coelhos jovens. A quantidade de alimento depende da idade dos coelhos jovens e da etapa de prenhez ou lactação das coelhas. Uma regra geral na alimentação de coelhos adolescentes e em crescimento (jovens) consiste em oferecer tudo o que possa ser consumido em 20h, com o recipiente de ração vazio por , 4h por dia. As coelhas são geralmente alimentadas à vontade quando parem. A prática geral é transportar a coelha da alimentação restrita até a livre vagarosamente durante a primeira semana de lactação. No período entre ninhadas, as coelhas criadas para parir 5 vezes por ano geralmente têm sua alimentação restrita; as coelhas criadas intensivamente devem estar em alimentação completa continuamente, uma vez que comece a primeira lactação. A alimentação de coelhos tem sido grandemente auxiliada por rações comerciais peletizadas e cientificamente formuladas, a maioria das quais é nutricionalmente completa Quando não são observados, geralmente de manhã cedo ou à noite, os coelhos ingerem parte de suas fezes, contorcendo-se de maneira que a boca toque o ânus.

Alimentam-se exclusivamente da matéria macia que tenha sido processada no ceco. A coprofagia ou pseudo-ruminação é normal nos coelhos e não um sinal de deficiência nutricional. Serve como uma importante função nutricional, ao suprir o animal com complexo vitamínico B e proteínas sintetizadas no intestino. A estabilidade da microflora intestinal normal pode depender de coprofagia normal. O piso de arame em malha da gaiola não evita a coprofagia.

Higiene – A higiene é importante em qualquer empresa de criação, mas especialmente na produção de coelho. Já que pouca higiene leva a doença e morte, a limpeza e a higiene têm de ser constantes. Os ninhos têm de ser desinfetados entre um uso e outro. As gaiolas, comedouros e bebedouros devem ser higienizados periodicamente. Uma solução higienizante econômica e eficaz é 30mL de hipoclorito de sódio (cloro alvejante caseiro) misturados em 30mL/1L de água.

Uma coelheira ativa constantemente passa por problemas de perda de pelo. As coelhas arrancam os pelos de seus corpos para fazer ninhos, e uma parte desse pelo é transportada pelo ar. Gruda na gaiola, teto, lâmpadas e em quase qualquer outra superfície e deve ser removida periodicamente. As maneiras mais eficientes de removê-las das gaiolas incluem lavagem ou uso de um maçarico ou chama de propano. A lavagem, escovação, varredura e aspiração também são eficientes em outras partes da coelheira.

A remoção de fezes é essencial. O excesso de fezes leva a níveis inaceitáveis de amônia no ar, o que predispõe a doenças respiratórias. Ou se constrói um sistema eficiente de fossa para armazenamento das fezes, ou elas têm de ser removidas periodicamente (diariamente é melhor).

Outras técnicas de manejo – Os coelhos podem ser carregados pela apreensão da pele solta dos ombros com uma das mãos e colocando-se a outra por baixo das ancas para sustentar o peso. Se não forem seguros, apropriada e seguramente, podem ocorrer fraturas ou luxações das vértebras lombares devido à luta do animal; assim mesmo, as unhas das patas traseiras podem ferir gravemente os braços não protegidos dos tratadores. Alguns criadores tatuam ou colocam brincos nas orelhas de seus animais para identificá-los. Para propósitos de exibição, a orelha direita reserva-se para marcas de registro aplicadas pelos registradores da “American Rabbit Breeders Association”.

O sexo pode ser determinado no momento do nascimento, porém geralmente se determina no momento do desmame. Ao se comprimir a genitália externa, pode-se expor a membrana mucosa. No macho, a membrana mucosa protrai e forma um círculo; na fêmea esta membrana se estende e forma uma ranhura. A castração não produz benefícios para os coelhos produtores de carne; o crescimento de machos e fêmeas é aproximadamente igual até depois da idade de venda. Às vezes, se castram os coelhos angorá criados por > 6 meses. A técnica é similar à utilizada para se castrar gatos, embora tenha que se notar que os testículos no escroto estão dispostos em posição lateral a anterior ao pênis como nos marsupiais, e não como na maioria dos outros mamíferos placentários.

Embora a maioria das técnicas apropriadas para cães e gatos possa ser aplicada em coelhos para a realização do exame físico e contenção, a anestesia geral de coelhos com barbitúricos é quase sempre acompanhada de mortalidade significativa.

É mais seguro usar agentes inalatórios, por exemplo, o halotano. O uso de agentes pré-anestésicos, como o cloridrato de clorpromazina (25mg/kg), diazepam e propiopromazina (5mg/kg) ou fentanil e droperidol (um produto combinado [0,22mL/kg]), diminui a apreensão, pode reduzir a dose necessária de anestesia geral em 50% e, quase sempre, prolonga a anestesia. A administração conjunta de cetamina (35 a 60mg/kg) e xilazina (5 a 10mg/kg) proporciona uma anestesia geral adequada.

Fonte: Manual Merck de Veterinária: um manual de diagnóstico, tratamento, prevenção e controle de doenças para o veterinário / Clarence M. Fraser, editor. -- 7. ed. -- São Paulo : Roca, 1996

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