Orientação para cunicultores da UNESP

MANUAL DE ORIENTAÇÃO PARA PEQUENOS E MÉDIOS CRIADORES DE COELHOS
Área de Produção de Coelhos - Departamento de Produção Animal
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UNESP – Botucatu

RINALDO POLASTRE
ELISABETE OKUDA YAMAGUISHI
1. INTRODUÇÃO
Este folheto tem como finalidade divulgar informações sobre coelhos do grupo genético Botucatu e técnicas fundamentais sobre a criação de coelhos de corte aos pequenos e médios criadores que procuram a Área de Produção de Coelhos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. A implantação do programa de seleção nessa população em janeiro de 1992 e sua posterior divulgação, resultou no crescimento significativo da demanda por reprodutores e informações técnicas. O presente manual destina-se a atender, de forma mais eficiente, às solicitações desta natureza.
O coelho doméstico se apresenta como alternativa importante à produção de carne, em pequena e média escalas. Contribuem para tanto a excelente qualidade nutricional da carne, rica em proteínas, cálcio e fósforo e com baixo teor de gordura  e também o rápido ciclo de produção da espécie, que atinge peso vivo para o abate, ao redor de 2kg, aos 70 dias de idade.
Acrescenta-se a essas vantagens a obtenção de valiosos subprodutos como a pele, o esterco e o cérebro, o hábito alimentar herbívoro e a ocupação de pequeno espaço físico, uma vez que é possível produzir 20 coelhos para abate por ano em apenas um metro quadrado de galpão, incluindo o alojamento de reprodutores.
2. MATERIAL GENÉTICO
A população de coelhos do Grupo Genético Botucatu é constituída, contemporaneamente, por aproximadamente 120 fêmeas e 25 machos reprodutores cujas finalidades são ensino, pesquisa e fomento da produção. Estes coelhos são descendentes de 25 fêmeas e 5 machos híbridos Norfolk 2000 (Norfolk Rabbits Ltda.), importados da Inglaterra pela Faculdade em 1971, quais foram selecionados de forma não-sistemática, por cerca de 15 a 20 gerações.
Entre janeiro de 1992 e agosto de 1994 conduziu-se o "Projeto de preservação, ampliação e seleção da população de coelhos do grupo genético Botucatu", com base em critérios científicos e apoio em microinformática, cujo objetivo principal era o melhoramento genético em características de crescimento, prolificidade e desempenho de ninhadas, sem contudo deixar de se eliminar animais com defeitos externos (calo, dente crescido, defeitos na genitália, sanidade, eficiência reprodutiva, etc.). Era também objetivo do projeto difundir o material genético melhorado, por intermédio de vendas de reprodutores aos pequenos e médios criadores da região, com vistas ao aprimoramento de seus plantéis.
O referido material genético apresenta grande perspectiva, principalmente, pela excelente taxa de crescimento dos animais até o ponto de abate. Dados de cerca de 2.600 coelhos avaliados aos 70 dias de idade durante o ano 2000 acusaram média de peso vivo de 2.060 g. O peso à desmama, efetuada aos 35 dias de idade, apresentou média de 920 g. A prolificidade pode ser considerada boa, pois as coelhas têm parido cerca de 6,5 láparos vivos por parto, sendo que o tamanho da ninhada à desmama é de 5,8 láparos. Sob um regime reprodutivo semi-intensivo praticado no plantel, em média uma coelha tem produzido ao redor de 39 láparos por ano, mostrando também, excelente aptidão reprodutiva em comparação com outras raças criadas no país.
Para os cunicultores que adotam, rotineiramente, esquemas de cruzamentos entre raças diferentes, recomenda-se que nosso material seja utilizado como raça paterna, pois, no momento atual, o potencial de crescimento é a sua principal virtude.
3. ALOJAMENTO PARA COELHOS
As informações sobre instalações, alimentação e manejo de coelhos apresentadas a seguir, são aplicáveis a outras raças médias como Nova Zelândia Branca, Califórnia e Chinchilla, encontradas com freqüência entre os criadores.
Ao planejar as instalações é necessário considerar que os animais estarão totalmente confinados e em densidade populacional relativamente elevada. Assume importância, prever a facilidade de limpeza e desinfecção das instalações, bem como o conforto dos animais, antes da construção, pois depois de prontas as alterações são impraticáveis. As principais condições de ambiente importantes para se evitar a ocorrência de doenças são:
a) Tranqüilidade ambiental: ruídos bruscos e muito fortes, assim como a presença de pessoas estranhas e cães, causam agitação nos animais, que se tornam agressivos, brigando entre si e pisoteando filhotes. Quando a falta de tranqüilidade é constante, o crescimento e a lactação podem ser afetados.
b) Qualidade do ar: evitar localizar a criação próxima a indústrias ou outras fontes de poluição. A fumaça irrita as vias respiratórias, predispondo os animais a doenças.
c) Temperatura: a temperatura ótima para coelhos adultos é de 18 a 21° C mas eles resistem melhor ao frio que ao calor. Acima de 30° C há redução drástica no consumo de alimentos com conseqüências sobre a reprodução e o crescimento. Os recém-nascidos necessitam temperatura ambiente de 28 a 35° C que, em geral, é garantida pelo microclima do ninho, mas quando a temperatura ambiente cai abaixo de 12° C pode haver mortalidade de recém-nascidos.
d) Ventilação: a renovação de ar é muito importante para remover do ambiente gás carbônico e amônia provenientes, respectivamente, da respiração dos animais e da urina. Auxilia também na dissipação do excesso de calor e de umidade. Nunca se deve confinar os animais em ambientes fechados, sem renovação de ar, pois os gases já citados causam irritação das vias respiratórias favorecendo doenças. O arejamento deve ocorrer sem que haja a incidência direta de vento sobre os animais, principalmente no inverno.
e) Iluminação: no crescimento utiliza-se iluminação natural e na maternidade pode-se complementar com luz artificial para corrigir a quantidade de horas de luz diárias de acordo com o programa de luz. Evitar a incidência de luz solar direta sobre os animais.
Existem dois tipos de instalações para coelhos:
a) Gaiolas ao ar livre: podem ser usadas para criações em pequena escala quando não se dispõe de recursos para construções. Algumas recomendações devem ser observadas como ter a parte de traz das gaiolas fechada e voltada para o quadrante sul para evitar os ventos predominantes e usar árvores ou cerca-viva para auxiliar na proteção contra sol, vento e chuvas. As dimensões devem ser: 1,20 x 0,60 x 0,70 m. Pode-se usar bambu, madeira, alvenaria ou cimento pré moldado. As laterais internas podem ser fechadas ou de tela de arame, enquanto piso deve ser ripado ou de grade de arame.
b) Gaiolas instaladas em galpões abertos: considerando-se as condições climáticas do Estado de
São Paulo, recomenda-se que o galpão tenha orientação leste-oeste, estrutura de madeira, alvenaria ou cimento pré-moldado. Na cobertura dar preferência à telha de barro do tipo francesa, devido à sua qualidade como isolante térmico. Nas laterais usar muretas com 0,50- 0,60 m de altura e o restante fechado com tela metálica de malha de 3/4" e cortinado plástico, com fechamento de baixo para cima. Quanto às dimensões, o pé direito de 2,50 a 3,00 m; largura de 6,00 a 8,00 m (duas ou três filas duplas de gaiolas, respectivamente); comprimento de 30,00 a 60,00 m limitado pelo número máximo de animais recomendado por galpão (350 fêmeas reprodutoras ou 2.000 animais em engorda). O piso deve ser pavimentado apenas nos corredores de serviço com 0,70 a 1,10 m de largura e sob as gaiolas deixar em terra. Caso o solo não apresente boa drenagem, é necessário fazer um dreno com manilhas, britas e areia. Nesse sistema, a parte líquida dos dejetos é drenada e a parte sólida é retirada mensalmente.
Instalações pré-existentes podem ser adaptadas para alojar os coelhos, desde que atendam aos requisitos mínimos de renovação de ar e proteção contra ventos, chuvas e luz solar direta.
A gaiola de coelhos é feita em arame galvanizado, podendo ser apresentada em diferentes tamanhos e modelos. Existem gaiolas individuais e em unidades múltiplas. Estas últimas são em geral mais baratas, pois se economizam laterais e fundos, mas, em contrapartida, são mais difíceis de montar e desmontar.
O sistema mais usual de disposição das gaiolas no galpão é em 2 ou 3 filas duplas de gaiolas em um só andar, denominado sistema "flat deck". O comprimento das fileiras deve ser de no máximo 30,0 m para facilidade de circulação e melhor funcionamento dos bebedouros automáticos. As gaiolas anteriormente eram suspensas à estrutura do telhado através de fios de arame, mas devido à sobrecarga nesses fios, na estrutura do telhado e nos fundos das gaiolas, tornou-se desvantajoso. Recomenda-se a utilização de suportes de madeira ou de ferro estrivado para apoiar as gaiolas, distanciados transversalmente cerca de 1,5 a 2,0m. A disposição de gaiolas em dois ou três andares não é recomendada, em função da dificuldade de observação dos animais, más condições de higiene e ventilação.
Os comedouros podem ser de barro ou de chapa galvanizada. Este último é acoplado do lado de fora da gaiola e, portanto, não ocupa espaço em seu interior e é fácil de abastecer. No entanto, seu custo é mais elevado e, em geral, o desperdício de ração é grande quando usado para fêmeas reprodutoras, o que tem favorecido a utilização de potes de barro. As manjedouras são construídas pela depressão no teto da própria gaiola e servem para se ministrar forragens aos animais.
Os bebedouros podem ser de dois tipos, de acordo com escala de produção: mamadeira ou automático. Os potes de barro não devem ser usados porque tem baixa capacidade, ocupam espaço na gaiola e são anti-higiênicos. O tipo mamadeira é higiênico, porém, requer muito trabalho na limpeza e abastecimento, podendo ser usado quando o número de coelhos for pequeno. O sistema de distribuição automático de água é o único viável nas médias e grandes criações. Trata-se de um ou mais reservatórios de água (caixas d’água), conectados a tubulação plástica com válvulas individuais em cada gaiola. Nesse sistema de distribuição contínua, é importante verificar com freqüência o bom funcionamento das válvulas e a ocorrência de vazamentos, que podem ser atribuídos à falta ou excesso de pressão, sujeiras ou ainda defeito de fabricação.
O ninho é o local que a fêmea prepara para receber os láparos recém- nascidos, depositando pêlos que arranca do próprio corpo. Pode ser de madeira ou chapa galvanizada e o piso de madeira ou tela. É indicado o uso de ninhos de madeira, que proporcionam bom conforto térmico, porém sob o ponto de vista higiênico requerem cuidados especiais para limpeza e desinfecção. As dimensões-padrão são: 0,45 x 0,25 x 0,30 m. A abertura frontal deve ser chanfrada e medir 0,15 x 0,15 m. O número de ninhos deve corresponder ao número de fêmeas reprodutoras. A cama para forrar o ninho pode ser de maravalha de madeira, capim seco ou casca de arroz.
Outros equipamentos necessários são:
• Carrinhos-de-mão: um para distribuição de alimentos e outro para retirada do esterco;
• Lança-chama: indispensável para limpeza das instalações em virtude da grande quantidade de pêlos desprendidos dos animais;
• Mesa-carro: para vacinação e banhos preventivos contra sarna;
• Balança: com capacidade de 10 kg, para pesar coelhos e ração;
• Pulverizador costal: para desinfecção de instalações e equipamentos;
• Alicate tatuador: com jogo de letras e números;
• Caixas ("container"): para contenção e transporte de coelhos.
4. ALIMENTAÇÃO
O coelho é herbívoro, ou seja, alimenta-se apenas de vegetais. Seu estômago é volumoso e se contrai pouco, tendo fraca constituição muscular. A conseqüência é que o próprio alimento que vai sendo ingerido, muitas vezes ao dia e em pequenas quantidades, empurra o alimento adiante em direção ao intestino delgado, onde ocorre a digestão química e a absorção de nutrientes, tais como: aminoácidos, açúcares e ácidos graxos.
O ceco, que faz parte do intestino grosso, é também volumoso e contém bactérias especiais que auxiliam a digestão da fibra, produzindo energia, vitaminas do complexo B e aminoácidos. O coelho adulto produz dois tipos de fezes: fezes duras e cecotrofos. Os cecotrofos, que têm origem no ceco, são ricos em vitaminas e proteínas e são ingeridos pelos coelhos que os tomam diretamente do ânus e os submetem a um novo processo digestivo. Essa prática denomina se cecotrofagia ou cecotrofia e ocorre preferencialmente à noite.
Os coelhos podem ser alimentados com rações peletizadas completas apenas ou com ração mais plantas verdes (sistema misto de alimentação) para baratear o custo de alimentação, que pode representar mais de 70% dos custos de produção. Usar rações fareladas é possível, no entanto, há necessidade de adaptação prévia dos animais e o desempenho reprodutivo e de crescimento é inferior. As rações são formuladas de acordo com as exigências nutricionais de cada categoria animal: animais jovens em crescimento, fêmeas em gestação e lactação e adultos em manutenção. Os principais ingredientes utilizados são os grãos de cereais e subprodutos como o milho e o farelo de trigo (são as fontes mais importantes de energia), o farelo de soja (fonte de proteínas, principalmente), fenos de gramíneas ou leguminosas, palhas e cascas (fontes de fibra), sal comum, minerais e vitaminas. O balanceamento das dietas, ou seja, a definição da proporção a ser usadande cada alimento é feito com o auxílio de programas computacionais e deve ser orientado por um zootecnista. A seqüência de preparo da ração envolve o exame da qualidade da matéria-prima, a trituração e a mistura dos ingredientes, e a peletização. Os grânulos devem ter as dimensões de 3 a 5 mm de diâmetro e 8 a 10 mm de comprimento para se obter a máxima eficiência de utilização da ração pelos animais.
Entre as plantas que podem ser usadas no sistema misto de alimentação estão:
a) Gramíneas: Capim elefante, Colonião, Cana-de-açúcar. Têm baixo valor nutritivo, fornecendo quase que exclusivamente fibra aos animais. Seu uso em substituição à ração completa acarreta queda no desempenho, em termos de crescimento e reprodução.
b) Leguminosas: Centrosema, Desmodium, Leucena, Soja Perene e outras. Fornecem proteínas em quantidade apreciável, além de fibras.
c) Rami: Esta planta apresenta excelente qualidade nutricional para os coelhos, fornecendo, além de fibra, quantidade apreciável de proteínas. Pode substituir até 20% da ração, sem alterar o desempenho de animais em crescimento (ZINSLY, 1987). É indispensável ter sempre à disposição dos animais água limpa e fresca.
O comportamento alimentar dos coelhos varia de acordo com a idade:
• Do nascimento até três semanas de idade: apenas leite materno, com uma mamada a cada 24 horas.
• Da terceira até a quinta semana: nesta fase o animal passa de uma mamada para 30 a 40 refeições de ração e água por dia.
• Adulto: em torno de 30 refeições diárias de ração e água.
O consumo individual diário de ração está em torno de 5% do peso vivo e de água 10% do peso vivo, com temperatura ambiente de até 24 C. Devido ao hábito de vida predominantemente noturno dos coelhos, 80% do consumo de ração ocorre das 17:00 às 6:00 horas, daí a importância de se ter os comedouros cheios no período noturno, principalmente no verão. Para efeito de previsão, estima-se o consumo global de ração em 1,0 a 1,4 kg/gaiola-mãe/dia. Exemplificando: uma granja com 100 matrizes deverá consumir, no total, de 100 a 140 kg de ração peletizada balanceada por dia, incluindo todas as categorias de animais. A conversão alimentar global deve ser de 4,5 a 5,0 kg de ração por kg de peso vivo produzido, incluindo-se também a alimentação dos reprodutores. Um programa orientativo para a alimentação de coelhos de raças médias, exclusivamente com ração balanceada.
O calor muito intenso, com temperatura superior a 30° C causa redução do apetite nos coelhos, que têm dificuldade para dissipar calor corporal, devido à abundância de pêlos e ausência de glândulas sudoríparas. Com a redução no consumo de alimentos, o crescimento é mais lento e a eficiência reprodutiva também diminui. O consumo de água é bastante aumentado com calor excessivo. O consumo de água também vai variar de acordo com a temperatura ambiental, pois com o aumento da temperatura ambiental, a temperatura da água se eleva, reduzindo o seu consumo, prejudicando a perda de calor através das vias respiratórias .
Cuidado especial deve ser dispensado ao armazenamento da ração. Os sacos devem ser mantidos sobre estrados de madeira, em locais secos, ventilados, ao abrigo da luz e livres de ratos e camundongos. Evitar o contato com superfícies úmidas (paredes e chão). A ração comercial não deve ser armazenada por período superior a 30 dias. Em hipótese alguma fornecer ração embolorada ou fermentada (azeda) aos animais, pois isto pode causar intoxicação e até mesmo a morte do animal.
5. MANEJO DA CRIAÇÃO DE COELHOS
O manejo envolve todos os planos e procedimentos necessários ao bom funcionamento de uma criação. Está intimamente relacionado à alimentação, reprodução e controle de doenças, em conjunto.
Manejo reprodutivo
A idade para o primeiro acasalamento está em torno de 4 a 4,5 meses ou 80% do peso adulto para as fêmeas. Por exemplo, para uma raça cujo peso adulto é de 4 kg, as fêmeas podem ser acasaladas quando atingirem 3,2 kg de peso vivo. Pode-se começar a utilizar os machos de forma moderada na reprodução (uma cobrição por semana) a partir de 5 meses de idade, embora atinjam a maturidade sexual apenas com cerca de 8 meses.
A ovulação na coelha é induzida pela cópula e ocorre de 10 a 12 horas após a mesma. Não há um ciclo estral com duração definida. Para realizar o acasalamento, considera-se o aspecto da vulva da coelha, que deve estar rosada ou vermelha, intumescida e úmida. Leva-se sempre a fêmea à gaiola do macho e nunca o contrário e observa-se até que o macho monte a fêmea, emita um ruído característico e caia de lado ou para trás. Anota-se imediatamente a data e o número do macho na ficha da fêmea, acoplada à gaiola, para se poder prever a data do parto. Deve-se realizar os acasalamentos nas horas mais frescas do dia (pela manhã ou final da tarde). Caso a fêmea recuse o acasalamento, recomenda-se tentar nos dias de cobrição subseqüentes, até que ela aceite o macho.
A proporção entre machos e fêmeas numa criação varia de 1:5 a 1:10, conforme o tamanho da criação e a intensidade de utilização dos machos. O macho deve ser usado em um salto por dia ou dois saltos em dias alternados.
Para se definir o momento do acasalamento pós-parto é importante considerar o sistema de alimentação adotado. Caso se utilize o programa baseado em ração balanceada e peletizada, recomenda-se acasalar as coelhas 9 a 11 dias pós-parto. Caso se adote o sistema de ração restrita e verde à vontade, recomenda-se dilatar este período para cerca de 30 dias. As coelhas que produzem quatro láparos ou menos, ao nascer, podem ser acasaladas até três dias pós-parto.
Em média a gestação da coelha dura de 31 a 32 dias. Três dias antes da data prevista para o parto, recomenda-se colocar o ninho, devidamente desinfetado e forrado com cama na gaiola da fêmea, que 24 horas antes do parto retira pêlos de seu corpo misturando-os ao material de cama, para abrigar os filhotes nas primeiras semanas de vida. O parto ocorre geralmente de madrugada.
A fêmea auxilia com a boca a saída dos filhotes e ingere a placenta. O tamanho da ninhada varia de 1 a 16 láparos, com média de 6 a 8.
Tanto a temperatura ambiente como a duração do fotoperíodo (número de horas diárias de luz solar) têm influência importante sobre a reprodução dos coelhos. O calor excessivo, com temperatura acima de 30o C tem efeito negativo sobre a reprodução, diminuindo o ardor sexual, a produção espermática nos machos e a produção de leite e tamanho de ninhada nas fêmeas.
A duração do fotoperíodo tem efeito direto sobre a receptividade ao macho e fertilidade das fêmeas. Observa-se que nos meses de janeiro a junho, quando o fotoperíodo é decrescente, há dificuldades na obtenção de acasalamentos e aumento nas falhas reprodutivas. Isto se deve, em parte à muda de pêlos, ou seja, à substituição da pelagem de verão pela pelagem mais densa de inverno, que ocorre nesta época do ano. Justamente por esses problemas causados na reprodução, o número de coelhos produzidos diminui (entressafra) e preço no mercado aumenta. Para melhorar a produção nesse período, recomenda-se o uso do programa de luz constante. Este consiste no fornecimento de luz artificial, controlada através de um temporizador, de modo a se manter 14 horas de luz/24 horas o ano todo, compensando a redução natural do fotoperíodo.
A organização do trabalho é um fator importante e a adoção do manejo em bandas ou grupos, tem facilitado o trabalho dos cunicultores, concentrando as tarefas semelhantes e tornando o serviço mais eficiente. Este trabalho pode ser iniciado com o estabelecimento de bandas semanais com todas as cobrições concentradas em um único dia da semana. Isto implica também na concentração das palpações, da colocação de ninhos, dos nascimentos e das desmamas em dias determinados da semana. Por exemplo, com as cobrições às sextas-feiras, as palpações (10o dia de gestação) serão às segundas-feiras, as colocações de ninhos (três dias antes do parto) serão às sextas-feiras, os nascimentos serão às segundas e terças-feiras e os desmames serão às segundas e terças-feiras. Dessa forma evita-se trabalho em excesso nos finais de semana.
Pode-se adotar manejos mais concentrados com três (cobrições a cada duas semanas), duas (cobrições a cada três semanas) ou banda única (cobrições a cada seis semanas). Resumindo:
• Banda única: intervalo entre duas bandas é de 42 dias;
• Duas bandas: intervalo entre duas bandas é de 21 dias;
• Três bandas: intervalo entre duas bandas é de 14 dias.
Vantagens do manejo em banda única em relação ao manejo individualizado:
• Diminui o tempo de manejo de cada fêmea;
• Disponibiliza mais tempo para outros serviços, como a higienização;
• Diminui a mortalidade desde o nascimento até a venda justamente devido à higienização dos galpões, das gaiolas, ninhos, etc;
• Estabelece um dia para o vazio sanitário na engorda, quando se utiliza um galpão somente para engorda.
Desvantagens do manejo em banda única:
• A fêmea que falhar na cobrição somente poderá retornar na reprodução no próximo grupo de coelhas;
• Índice parto / cobrição menor;
• Número de parto / fêmea / ano é menor;
• Dependente de inseminação artificial.
Esses índices reprodutivos menores são compensados, pois os dados de produção são semelhantes ou mais elevados em relação ao manejo individualizado, como o número de láparos produzidos / fêmea / ano semelhante e conversão alimentar melhor. Comparando o manejo em banda única e os outros sistemas de bandas, o manejo em banda única tem melhores dados de tempo gasto / fêmea / ano, de mortalidade e de idade para venda.
O ponto crucial para o sucesso do manejo reprodutivo é a substituição de fêmeas descartadas por irregularidade produtiva ou alterações sanitárias. O cunicultor deve reservar, mensalmente, cerca de 10% das melhores fêmeas produzidas para repor seu plantel. Um método prático para a escolha dessas fêmeas é que sejam advindas de ninhadas com, no mínimo, seis láparos na desmama e que apresentem bom desenvolvimento corporal na desmama e aos 70 dias de idade. Há necessidade de muito rigor no que diz respeito à saúde dos futuros reprodutores.
Devem estar livres de doenças ou quaisquer defeitos de aprumos, calos nas patas, dentes compridos, coriza. A substituição de machos reprodutores deve ser feita anualmente, para evitar a consangüinidade, procurando-se adquirí-los de uma granja idônea, que efetue adequadamente um programa de seleção. Quando na produção comercial a população é de raça pura e permanece fechada, sem a entrada de animais de outra procedência, o número mínimo de machos para evitar a consangüinidade é 20 (Baselga e Blasco, 1989).
Manejo de láparos do nascimento aos 70 dias de idade O exame inicial do ninho, após o parto, deve ser feito tão logo a fêmea se acalme. Retira se, eventualmente, os natimortos, restos de placenta, faz-se a contagem dos vivos e anotações na ficha da fêmea e troca-se o ninho caso esteja úmido, reaproveitando os pêlos secos. Se a temperatura ambiente estiver abaixo de 12o C os filhotes correm risco de vida, pois nascem sem pêlos no corpo. É necessário, então, providenciar uma fonte de calor, como uma lâmpada de 40 W adaptada à abertura do ninho.
A coelha amamenta os filhotes apenas uma vez a cada 24 horas, em geral pela manhã. A quantidade de leite produzida aumenta de 30 a 50 g nos primeiros dias para 200 a 250 g no final da terceira semana de lactação e depois cai rapidamente. O bom estado nutricional dos láparos é verificado todos os dias em exame do ninho, quando se retira filhotes mortos e troca-se o ninho, caso esteja molhado.
A taxa de mortalidade, do nascimento à desmama, está em torno de 20% (dos quais 70% se concentram na primeira semana) e tem como principais causas: fome, frio, abandono e canibalismo. Esses problemas estão intimamente relacionados ao estado nutricional e sanitário das matrizes. O nivelamento de ninhadas ou transferência de láparos é uma prática de manejo que visa reduzir a mortalidade do nascimento à desmama e obter ninhadas mais uniformes e pesadas. As fêmeas com ninhadas pequenas adotam láparos de outras com ninhadas com mais de oito láparos.
Na terceira semana de vida, os láparos começam a sair do ninho e a ingerir ração e água oferecidas à mãe. Os ninhos podem ser retirados aos 20-25 dias de idade da ninhada, conforme a estação do ano. A desmama é feita retirando-se os láparos da gaiola da mãe e alojando-os em gaiolas coletivas. Pode-se alojar na mesma gaiola animais de ninhadas diferentes, porém com idades similares. O momento ideal para a desmama é 35 dias de idade, desde que o animal tenha, no mínimo, 600 g de peso vivo. Nesta fase, o leite materno compõe menos de 20% do alimento diário ingerido pelo láparo e seu aparelho digestivo já está preparado para receber uma dieta composta apenas de ração. A desmama é o momento ideal para descartar láparos muito fracos ou doentes, identificar seu sexo, pesar e tatuar os animais pré-selecionados para a reprodução, quando for o caso.
Os primeiros dez dias após a desmama são críticos para os láparos, que têm que se adaptar à ausência da mãe, às novas instalações e dieta. Deve-se evitar as principais causas de estresse ambiental nesta fase, como mudanças bruscas de temperatura, exposição ao sol e vento e alimentação desbalanceada. O nível abaixo do requerido de fibra na ração, juntamente com o estresse ambiental são as principais causas primárias das diarréias, comuns no período inicial pós desmame.
A taxa de mortalidade da desmama aos 70 dias de idade é da ordem de 5 a 10% provocada principalmente por diarréias. Recomenda-se isolar ou sacrificar os animais doentes e manter as gaiolas sempre limpas, desinfetando-as a fogo, uma vez por semana.
Da desmama até os 70-75 dias de idade, o alojamento é feito em gaiolas coletivas com, no máximo, oito animais por gaiola (16 a 18 animais/m2 de gaiola) e a alimentação é oferecida à
vontade. O consumo de ração é, em média de 100 g por dia. Esta é a fase de máximo crescimento dos animais, principalmente entre 6. e 7. semanas de idade, quando o ganho de peso médio diário atinge 30-40 g/dia. Recomenda-se não restringir a quantidade de alimento oferecida nesta fase para não limitar o rápido crescimento.
Aos 70-75 dias de idade a média de peso vivo dos animais está em torno de 2 kg, desde que as condições de manejo e alimentação sejam boas. Considera-se como peso ideal de abate, nas condições do Estado de São Paulo, de 1,8-2,2 kg de peso vivo, embora alguns abatedouros exijam peso mínimo de 2,0 kg.
Manejo de animais adultos
Animais adultos, tanto machos como fêmeas, devem ser alojados individualmente e alimentados de forma controlada. Fêmeas em lactação ou em gestação e lactação simultâneas devem receber ração à vontade. Para machos e fêmeas adultas não-lactantes recomenda-se fornecer 130-180 g de ração balanceada peletizada por dia, conforme o porte do animal. Machos adultos brigam com muita violência entre si e devem ser mantidos afastados uns dos outros.
Manutenção de registros e controles
Deve-se identificar individualmente machos e fêmeas reprodutores antes do início da vida reprodutiva. A tatuagem de números ou números e letras na orelha, usando alicate próprio, é o método mais eficiente e seguro de identificação. A ficha contendo as informações da vida reprodutiva da fêmea é igualmente indispensável para as anotações das datas de cobrição e parição, número de filhotes nascidos e desmamados, etc.
Para se obter os dados necessários ao controle mensal de produção e auxiliar na detecção de problemas na criação é interessante fazer um relatório diário com todas as ocorrências como cobrições, nascimentos, desmamas, mortes, descartes e vendas de animais.

Higiene e profilaxia de doenças
O confinamento total, sob condições substancialmente distintas do habitat natural, aliado à densidade populacional elevada, trazem uma situação única, em que é necessário prover o máximo conforto ambiental aos animais. De seu bem estar depende, em grande parte a saúde e, como conseqüência, a produtividade.
No planejamento de qualquer instalação para animais, deve-se ter em mente a limpeza, evitando cantos e locais de difícil acesso. Condições ambientais adversas como temperaturas extremas, ventos, falta de renovação de ar e umidade muito alta ou muito baixa são fatores de extrema importância no desencadeamento de doenças.
Desde que se instala um criatório, o microbismo se estabelece e aumenta progressivamente. Deve-se providenciar para que esse aumento seja o mais lento possível, procedendo à limpeza e desinfecção adequadas das instalações e equipamentos. O manejo de vazio sanitário, no máximo a cada dois anos, reduz substancialmente o microbismo e deve ser adotado.
Limpeza e desinfecção durante o vazio sanitário
• a instalação deve estar totalmente vazia;
• retirar todo o material móvel: gaiolas, comedouros e ninhos;
• remover os dejetos e detritos orgânicos;
• usar lança-chamas para eliminar pêlos;
• limpar a seco piso, janelas e telas;
• lavar muito bem as instalações, removendo toda a matéria orgânica que reduz a ação de desinfetantes;
• pulverizar solução detergente e depois de vinte minutos lavar abundantemente com água sob pressão;
• secar 24 horas;
• desinfecção de pisos e paredes até um metro de altura usar um litro de derivados fenólicos em 4 a 8 l de óleo queimado (1 l / 10m2);
• desinfecção de paredes acima de um metro pulverizar mistura de ácidos cresílicos (creolina) em solução 1% (5 l / 20 m2 de superfície);
• fechar as instalações dois ou três dias;
• antes de introduzir os animais, pulverizar com derivados iodados (Biocid, Iodofor);
• o vazio sanitário nunca deve ser inferior a 7 dias;
• máximo de tempo sem vazio sanitário: 24 meses.
• os detergentes e desinfetantes devem ser usados de acordo com a recomendação dos fabricantes;
Os principais cuidados quanto à limpeza, desinfecção e profilaxia na criação de coelhos com os animais nas instalações são:
• Galpões e gaiolas:
• manter os corredores de serviço limpos;
• retirar dejetos uma vez por mês das valas de terra sob as gaiolas e polvilhar cal após a retirada;
• usar lança-chama nas gaiolas semanalmente para eliminar pêlos; a boa higiene da gaiola é essencial na prevenção de sarnas e diarréias.
• Comedouros e ninhos:
• imergir em solução detergente 1 a 2%, por vinte a trinta minutos ou pulverizar com concentração maior;
• lavar com água e desinfetar com derivado iodado;
• não deixar ração acumulada por muito tempo no comedouro (máximo uma semana);
• Sistema de distribuição de água:
• desinfetar periodicamente (no mínimo uma vez por ano) todo o sistema e inclusive os depósitos de água, mantendo-os livres de fungos (usar iodóforos);
• Em caso de morte ou venda do animal:
• limpar e desinfetar gaiola e comedouro, usando escova, solução desinfetante e vassoura de fogo;
• destruir restos de alimento;
• enterrar ou incinerar os mortos.
• Cuidados específicos com a saúde dos animais:
• eliminar reprodutores, tanto machos quanto fêmeas, com doenças crônicas como abcessos, mamite e coriza;
• isolar animais suspeitos de doenças;
• nunca emprestar animais;
• isolar por 21 dias coelhos advindos de outras granjas ou exposições, observando-os diariamente;
• realizar banhos mensais com produtos sarnicidas nas patas e orelhas dos machos e fêmeas reprodutores, para evitar sarnas;
• Outros cuidados:
• combater insetos e fontes de poluição;
• fazer desratização periódica;
• evitar a entrada de pessoas estranhas à criação;
• habituar o pessoal de serviço a lavar as mãos antes de entrar na criação e também quando se manuseia animais doentes;
• impedir o trânsito de cães e gatos no interior da instalação;
• quando a umidade relativa do ar estiver abaixo de 40%, nebulizar o ambiente com solução iodófora em gota fina.
• manter registros de mortalidade e rendimento.

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