Composição Química e Contribuição Nutritiva de Cecotrofos de Diferentes Dietas
Augusto Vidal da Costa
Gomes1, Walter Motta Ferreira2
RESUMO - Os efeitos de cinco
fontes de fibra sobre a produção, composição química e a contribuição nutritiva
dos cecotrofos em
termos de matéria seca
e proteína bruta foram estudados. Quarenta coelhas da raça Nova Zelândia branco
foram alojadas em gaiolas
metabólicas, por 12
dias, para adaptação às dietas. No 13o dia, para evitar a coprofagia, os
animais receberam um colar de madeira por
um período de 24 horas,
procedendo-se à coleta dos cecotrofos de duas em duas horas. A dieta padrão
tinha como principal fonte de fibra
o feno de alfafa. As
outras dietas foram caracterizadas pela substituição isométrica do feno de
alfafa por feno de guandu (Cajanus cajan),
palha de feijão, palha
e sabugo de milho branco e o feno coast-cross (Cynodon dactylon).
Foi observado efeito do tipo de dieta sobre a
composição química dos
cecotrofos e o teor de PB ingerida por cecotrofia, porém a produção de
cecotrofos não diferiu entre dietas.
Palavras-chave: coelho, cecotrofos, cecotrofia
Chemical Composition and Nutritive Contribution of Cecothrophes from
Different Diets
ABSTRACT - The effects of five fiber sources
on the production, chemical composition and cecotrophes nutritive contribution
on dry matter and crude protein base were studied. Forty White New
Zealand female rabbits were housed in metabolic cage for 12 days
to adaptation to the diets. In the 13th day, to prevent coprophagy, the
animals received a necklace of wood for a period of 24 hours, and
the cecotrophes were collected every two hours. The standard diet had
the alfalfa hay as a mainly fiber source. The other diets were
characterized by isometric replacement of alfalfa hay by pigeon pea hay
(Cajanus cajan), bean straw, white corn with cob and husks
and coast-cross hay (Cynodon dactylon). Effect of diet type on
cecotrophes chemical composition and crude protein content ingested
by cecotrophy was observed, however the cecotrophes production was not
different among diets.
Introdução
A coprofagia é
observada em herbívoros como conseqüência da adaptação do processo digestivo de
animais de pequeno porte a condições alimentares particularmente difíceis.
Estes animais têm, relativamente ao seu peso corporal, necessidades nutritivas muito
elevadas, as quais não podem ser supridas com alimentos fibrosos, de baixa
digestibilidade, que é naturalmente limitada pela capacidade do seu
compartimento de digestão microbiana e/ou pela velocidade do trânsito
digestivo.
A coprofagia fornece
determinada quantidade de nutrientes sintetizados no ceco e reciclagem de parte
do alimento não-digerido, o que implica em melhor utilização do mesmo. O coelho
produz dois tipos de fezes; as duras e as moles, ingerindo apenas as últimas. Estas,
por terem composição química muito semelhante à do conteúdo do ceco, tem sido,
por proposta de EDEN (1940), denominadas de cecotrofos e o fenômeno, cecotrofia.
Alguns trabalhos têm
demonstrado que o tipo de fibra pode influenciar a produção e composição
química dos cecotrofos.
Estudando cinco regimes
alimentares, PROTO et al. (1968) verificaram que a quantidade diária de cecotrofos
eliminados variava conforme a natureza do alimento. CARABAÑO et al.(1988) citam
valores de excreção que variam de 14,98 a 29,59 g de matéria seca por dia.
FERREIRA (1990), trabalhando com duas fontes de fibra, observou contribuição da
matéria seca pelos cecotrofos, em relação à matéria seca ingerida, em torno de
16,5%, quando utilizou a polpa de beterraba, e de 17,1%, para o bagaço de uva.
A contribuição dos cecotrofos em relação à proteína ingerida para os mesmos
alimentos foram de 28 e 27%, respectivamente. O autor cita que a composição química
dos cecotrofos
em termos de matéria
seca (MS) e proteína bruta (PB) foi influenciada em função do tipo da dieta.
Conclusões diferentes chegaram CARABAÑO et al. (1989), que estudaram o efeito
da dieta sobre a produção e contribuição relativa dos cecotrofos em termos de
PB e MS. Os autores substituíram a alfafa por palha de trigo e farelo de
girassol e concluíram que a dieta não influiu na produção de cecotrofos e na
contribuição em termos de MS e proteína ingerida.
O objetivo deste
trabalho foi avaliar o efeito de cinco fontes de fibra sobre a composição
química, produção e contribuição dos cecotrofos em termos de MS e PB.
Material e Métodos
O experimento foi
conduzido no Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG. Formulou-se
uma dieta padrão, na qual a principal fonte de fibra foi o feno de alfafa. As
demais dietas caracterizaram-se pela substituição isométrica do feno de alfafa
(FA) por feno de guandu (Cajanus cajan) (FG), palha de feijão (PF), palha e
sabugo de milho branco (PSMB) e o feno coast-cross (Cynodon dactylon) (FCC),
sendo os demais ingredientes fixos em todas as dietas. Essas dietas foram
peletizadas, obtendo-se grânulos com 5 mm de diâmetro e 10 mm de comprimento. A
fórmula das dietas experimentais e a composição química encontram-se nas
Tabelas 1 e 2, respectivamente. Para a realização do experimento, utilizaram-se
40 coelhas da raça Nova Zelândia branco, com peso médio de 2,30 kg,
distribuídas em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e
oito repetições. Os animais foram alojados em gaiolas metabólicas e tiveram
período de adaptação às dietas de 12 dias, durante o qual se controlou o
consumo de ração. Com o objetivo de evitar a coprofagia, cada animal recebeu no
13o dia um colar de madeira medindo 25 cm de diâmetro, com um orifício central
de 7 cm de diâmetro. O colar foi colocado às 14 h e retirado ao completar 24
horas. Durante esse período, registrou se o consumo de ração e procedeu-se à
coleta de
cecotrofos de 2 em 2
horas. Os cecotrofos coletados foram acondicionados e congelados a -10oC, para posteriores
análises químicas. As dietas e os cecotrofos foram submetidos às análises de
MS, PB e matéria mineral (MM), de acordo com os métodos da ASSOCIATION OF
OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS - AOAC (1984). A análise estatística foi realizada
segundo o programa SAEG (Sistema para análises estatísticas e genéticas) e as
médias comparadas pelo teste de DUCAN, em nível de 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
A composição química
dos cecotrofos encontra se na Tabela 3. Observou-se efeito (P<0,05) do tipo de
dieta sobre a composição química dos cecotrofos. A substituição do FA por PSMB
e FCC proporcionou aumento significativo no teor de MS dos cecotrofos. Estes resultados
contrariam as conclusões de CUNHA (1988) e PÉREZ de AYALA
(1989), que observaram
aumento no teor de MS dos cecotrofos em dietas que continham fontes de fibras mais
lignificadas, o que não ocorreu neste trabalho, pois, estas dietas foram as que
apresentaram os menores teores de lignina. Em relação ao teor de PB e MM, a
dieta à base de alfafa apresentou valores superiores em torno de 5 e 22%,
respectivamente, em relação aos demais tratamentos, sendo que a matéria orgânica
(MO) apresentou comportamento inverso. A Tabela 4 mostra as médias encontradas
para consumo de ração, produção de cecotrofos e contribuição de princípios
nutritivos pelos cecotrofos. Constatou-se que houve diferenças (P<0,05) para
o consumo de proteína bruta e, apesar de não ter ocorrido diferença
significativa, a dieta de FG proporcionou consumo 14% superior à dieta padrão; o inverso ocorreu com à dieta de
PSMB, que apresentou o menor consumo (27,46%), o que, em parte, pode ser
atribuído ao consumo de matéria seca, embora esta variável não tenha
apresentado diferenças estatísticas entre tratamentos. A produção e o
fornecimento de MS pelos cecotrofos não foram influenciados pelo tipo de dieta.
Entretanto, a contribuição de PB pelos cecotrofos em relação ao consumo diário
de proteína foi afetado significativamente (P<0,05) pelo tipo de dieta,
obtendo-se o valor mais elevado (28,55%) para a dieta de PF. Segundo vários
autores (GIDENNE, 1987; CARABAÑO et al. 1988), em dietas mais energéticas,
parece que a contribuição de
MS e PB pelos
cecotrofos diminui em relação a dietas menos energéticas, o que não ocorreu
neste trabalho para os valores de MS, porém, em relação ao teor de PB,
observou-se este efeito, pois a dieta de PF foi a que apresentou o menor valor
energético. Quanto à produção de cecotrofos, FRAGA et al. (1989) e CARABAÑO et
al.(1989) não observaram efeito da fonte de fibra sobre a produção de
cecotrofos, o que está de acordo com os resultados obtidos neste trabalho. Os
valores obtidos estão próximos aos citados por FERREIRA (1990), cujos valores
oscilaram de 15,1 a 19,9 g de MS/dia, porém são superiores aos relatados por
PÉREZ de AYALA (1989). A contribuição em termos de MS, também, se aproxima dos
valores citados por FERREIRA (1990), no entanto, o autor relata que a quantidade
de proteína fornecida pelos cecotrofos em relação à proteína ingerida ficou em
torno de 28%, sendo, portanto, superior à média obtida neste trabalho, 23%, a
qual se aproxima do valor citado por CARABAÑO et al. (1989), que utilizaram uma
dieta com composição química próxima à das dietas utilizadas neste trabalho e
observaram que os cecotrofos contribuíram com 21% PB ingerida. Já FRAGA et al.
(1991), ao trabalharem com cinco fontes, observaram valores inferiores,
obtendo, em média, valores de 9 e 13%, respectivamente, para o teor de MS e PB.
Os dados mostram que, em um período de 24 horas, ocorreu reciclagem média de
19,9 g MS e 5,21 g PB. Estes valores são superiores aos obtidos por OGUNDUN et
al. (1991), que citam contribuição nutritiva pelos cecotrofos em termos de MS e
PB, em um período de 24 horas, de 13,3 e 3,4 g, respectivamente. Estas variações
citadas podem ter ocorrido devido à natureza das dietas.
Conclusões
A fonte de fibra
influenciou a composição química dos cecotrofos, bem como o fornecimento de proteína
bruta ingerida, por intermédio da coprofagia.
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