Espécie de coelho é ameaçada por caça e destruição do habitat
Dissimulado por entre a erva alta, bem camuflado na sua pelagem castanho-acinzentada, um coelho-bravo pasta calmamente, mas sempre atento aos predadores. Um simples ruído e ele foge rapidamente, numa corrida...
Dissimulado por entre a erva alta, bem camuflado na sua pelagem castanho-acinzentada, um coelho-bravo pasta calmamente, mas sempre atento aos predadores. Um simples ruído e ele foge rapidamente, numa corrida curta, em ziguezagues estonteantes. Uma velocidade que não lhe valeu de nada, quando um surto de doenças quase o deixou à beira da extinção.
Outrora abundante em Portugal e em toda a Europa, o coelho-bravo tem sido dizimado por doenças e caçado até a exaustão. Uma situação agravada com o abandono das terras agrícolas, que provocou uma constante perda do seu habitat. Só na última década, 30% da população desapareceu, arrastando consigo para o bordo da extinção espécies bem mais raras, como o lince e a águia-imperial.
A proibição da caça em largas épocas do ano e a criação de reservas protegidas, o combate a algumas das doenças mais comuns e o repovoamento com animais de outros países permitiu às populações de coelhos recuperarem parte da sua vitalidade. A elevada taxa de natalidade joga também a seu favor – o coelho reproduz-se quase todo o ano e, com um período de gestação de apenas 28/33 dias, cada fêmea produz três a sete ninhadas por ano, compostas por duas a sete crias… que ao fim de três meses e meio já estão aptas a reproduzir.
Mas ainda que “Não ameaçado” no Livro Vermelho dos Vertebrados, o coelho-bravo não está livre de perigos. Por exemplo, não existe cura para nenhum das doenças que nas décadas de 60 e de 90 o levaram quase à extinção – a mixomatose e a doença hemorrágica viral (DHV). Por outro lado, o abandono dos solos, que resulta numa degradação dos habitats, a produção florestal em grande escala representam também ameaças declaradas à espécie.
A mixomatose, que foi introduzida em França nos anos 50, expandiu-se rapidamente para outros países europeus, com surtos que chegam normalmente nos meses de Verão (mas podem ir até ao Outono). O vírus é transmitido por contato direto com outros animais doentes ou através de insetos como moscas ou mosquitos. “Felizmente, alguns coelhos já começaram a desenvolver algumas imunidades contra a mixomatose, uma resistência genética que reduziu a sua mortalidade”, adianta António Pedro Santos.
A doença hemorrágica viral continua a matar algumas populações da espécie, especialmente nos finais de Outono, início do Inverno. Foi detectada pela primeira vez na China no princípio dos anos 80 e chegou à Europa em finais da década. É transmitida através de coelhos infectados, ou por contato indireto com insetos, aves e até mamíferos. “No panorama nacional, a morte por DHV é superior à morte por mixomatose”, constata. “É uma doença que mata em dois dias, ao contrário da mixomatose, onde alguns animais sobrevivem e outros, antes de morrer, vão definhando ao longo de uma ou duas semanas, perdendo as capacidades físicas de fuga, os reflexos”, explica o professor de ecologia de Évora.
A esperança está em algumas vacinas, com elevada eficácia comprovada. “Contudo, torna-se impraticável e quase anti-econômico capturar todos os coelhos de uma zona e vaciná-los periodicamente”. Outro dos campos de actuação a nível preventivo prende-se com as zonas de repovoamento, para onde os coelhos devem ir já desparasitados e vacinados.
Apesar da sua ampla distribuição em Portugal e da rápida recuperação das populações dizimadas pela doença, a verdade é que hoje ninguém sabe ao certo quanto coelhos-bravos existem “A sua abundância varia de região para região e de ano para ano, não se sabendo ao certo o número de indivíduos. Podem ser alvo de um grande surto de doenças e quase desaparecer e ter de seguida um rápido crescimento. É uma espécie capaz de ter grande dinâmica evolutiva quando tem condições favoráveis”, explica António Pedro Santos.
É urgente, por isso, tomar medidas para gerir de forma ética as populações de coelhos.
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