Principais doenças de coelhos por: Andréa Mendes Pereira
INTRODUÇÃO
Os coelhos são afetados por uma variedade de doenças que
podem interferir na sua utilização na experimentação, o que os torna, nesse
caso, um elemento biológico inferior, aumentando consideravelmente o custo da
investigação. As doenças que mais comumente afetam os coelhos são as do trato
respiratório e as intestinais. Muitas dessas doenças estão presentes na colônia
de forma subclínica e podem aparecer como surtos em conseqüência do estresse
provocado por mudança de manejo, transporte ou pela manipulação durante a
experimentação.
Os animais portadores de agentes infecciosos, mesmo que de
forma latente, constituem focos potenciais de infecção. O controle das
enfermidades pode ser mais eficaz se forem adotadas práticas de manejo que desfavoreçam
a transmissão direta dos agentes. Aconselha-se evitar a troca de comedouros e
bebedouros, manutenção de número adequado de animais por gaiola e não manter
animais de diferentes espécies na A quarentena dos animais recentemente
introduzidos na colônia constitui medida indispensável no controle de
enfermidades. Esse período não deve ser menor que 14 dias e, nessa época, os
animais devem ser minuciosamente examinados diariamente em busca de sinais que
apontem a presença de doença.
O coelho saudável é alerta e bem provido de carne. As patas
dianteiras são paralelas entre si, ao passo que as traseiras se flexionam sob o
corpo. O metatarso é que está em contato com o piso da gaiola, portanto, é o
quesuporta boa parte do peso do animal. As orelhas são móveis, voluntária e
independentemente, e alertas aqualquer ruído estranho.
DOENÇAS INFECCIOSAS DE ORIGEM BACTERIANA
PASTEURELOSE
A pasteurelose é uma doença respiratória contagiosa muito importante
nos coelhos, caracterizada por infecção do trato respiratório superior com
rinite e conjuntivite crônicas e mucopurulentas. O agente etiológico é Pasteurella multocida, que também
afeta outros animais domésticos e de laboratório.
Na cobaia, determina severa pneumonia. Bordetella
bronchiseptica e Haemophilus sp podem estar associados como agentes
secundários.
A transmissão ocorre por contato direto com animais
infectados, ou indiretamente por intermédio de equipamentos contaminados, aerossóis
e pelo técnico. Há transmissão sexual.
Os sintomas variam desde uma ligeira descarga nasal
não-progressiva até uma septicemia aguda e morte.
Geralmente as anormalidades das vias respiratórias
superiores são os achados mais freqüentes, sendo característica a descarga
nasal mucopurulenta acompanhada de espirros. A doença pode se sustentar com
esse quadro por longos períodos, propagando-se rapidamente pela colônia. A
evolução para formas mais severas acontece quando a resistência imunológica do animal
fica prejudicada. Nos casos mais severos, evidencia-se broncopneumonia com
estertores audíveis durante a contenção do animal. O quadro tem curso agudo e
fatal.
A conjuntivite é um sintoma comum, proveniente da
contaminação do ducto naso-lacrimal, mas geralmente é benigna. A pasteurelose
também pode causar otite média com desvio do pescoço. Ocasionalmente, ocorrem abscessos
subcutâneos que, mesmo encapsulados, podem causar septicemia. Nas infecções
genitais resultantes de transmissão sexual, as fêmeas desenvolvem metrites e
piometra, ao passo que os machos apresentam orquites.
As lesões encontradas no exame post mortem variam desde
ligeira inflamação dos condutos nasais até pneumonia severa. Os pulmões podem
estar normais, firmes ou edemaciados de cor roxa escura a acinzentada, com
abscessos disseminados ou focais. Há acúmulo de fibrina nas superfícies pleural
e pericárdica.
Microscopicamente, são vistos acúmulos extensos de exudato
purulento que, dependendo da severidade, podem obstruir completamente a árvore
respiratória. Observam-se também áreas focais ou disseminadas de O diagnóstico
é confirmado pelos sintomas, pelas lesões anatomopatológicas e isolamento do
agente. O tratamento baseado na antibioticoterapia é de baixa eficácia.
O único método eficaz de erradicação da doença é o descarte
de toda a colônia, esterilização dos equipamentos e da sala, além da obtenção
de animais isentos da infecção. A utilização de vacinas preparadas com
antígenos capsulares do agente demonstrou algum êxito na prevenção da doença. A
criação de animais livres de patógenos específicos constitui o método mais
efetivo e prático para se prevenir a instalação da pasteurelose na criação de
coelhos.
DOENÇA DE TYZZER
Trata-se de uma enfermidade comum entre os camundongos e
pode provocar surtos graves em colônias de coelhos. É causada pelo Bacillus
piliformis, transmitido por contato oral direto, mas é necessária a ocorrência de
alguma condição debilitante para desencadear a doença. As idades de 3 a 12 semanas
são as mais susceptíveis.
O quadro clínico é caracterizado por diarréia líquida a
mucóide, profusa e espontânea, seguida de morte num período que varia de 12 a
72 horas.
No exame post mortem, observam-se lesões necróticas no
intestino, cólon proximal, íleo distal, fígado e miocárdio. Supõe-se que o foco
primário da infecção seja o intestino e, a partir daí, o agente invade outros ,
órgãos através da via linfática.
O diagnóstico é confirmado com base na visualização do
agente no citoplasma das células próximas às lesões necróticas, utilizando
colorações especiais nas amostras (PAS, Giemsa, Warthin Starry, Leviditti). Como medida de controle, deve ser evitada qualquer condição
que possa favorecer o estresse entre os animais.
É uma doença zoonótica que ocorre na maioria das espécies
animais, sendo rara em colônia de coelhos.
Os agentes etiológicos, Salmonella typhimurium e Salmonella
enteriditis, são transmitidos através de alimentos e água contaminados por
fezes de outros animais doentes ou portadores assintomáticos.
A doença não determina sintomas específicos. Os animais
doentes se curvam, apresentam diarréia e debilidade geral crescente. As lesões
incluem: esplenomegalia, congestão e petéquias no baço, pequenos focos de
necrose no fígado, ulceração do intestino e enterite hemorrágica.
O diagnóstico é concluído a partir do isolamento in vitro do
agente e identificação do mesmo mediante provas bioquímicas.
O tratamento não é recomendado, visto que induz ao estado de
portador, facilitando a disseminação da doença. O controle se baseia na
utilização de boas práticas de higiene e manejo, eliminação de animais doentes e
portadores. A transmissão ao homem pode ser evitada com a adoção de hábitos de
higiene pessoal adequados.
NECROBACILOSE
É uma doença pouco comum em coelhos, causada pelo Bacillus
fusiformis, sendo a maioria dos animais susceptíveis à doença. O agente é um
habitante normal da pele e penetra no organismo através de solução A enfermidade
se caracteriza por ulcerações progressivas da pele e tumorações subcutâneas,
sobretudo na face e na cavidade bucal. Pode ocorrer necrose local, edemas,
crostas e abscessos. O quadro pode evoluir para linfadenite e pneumonia. O
sintoma mais marcante é a dificuldade para comer nos animais afetados.
O diagnóstico é clínico e através do isolamento do agente. O
tratamento é fundamentado na drenagem cirúrgica e antibioticoterapia com
penicilina intramuscular.
Geralmente, boas práticas de manejo e higiene ajudam a
controlar essa enfermidade. O homem pode servir de fonte de infecção, quando
não se adotam bons hábitos de higiene pessoal, visto que o agente também habita
o organismo humano.
PSEUDOTUBERCULOSE
É mais comum entre os coelhos selvagens. O agente etiológico
é Yersinia pseudotuberculosis, transmitida por roedores selvagens, eliminada
nas fezes, penetrando por via oral. Para os coelhos de laboratório, a via de infecção
é a ingestão de água e ração contaminada com fezes de roedores selvagens.
Clinicamente, observa-se uma depreciação geral do estado
físico, inchaço nas articulações e, muitas vezes, nódulos abdominais tornam-se
palpáveis. Na fase terminal, nota-se emaciação, anorexia e dispnéia. A doença se
propaga lentamente através da colônia. Na necropsia, observam-se nódulos
caseosos por todos os gânglios e órgãos linfáticos. Baço, fígado, pulmões e
intestino estão quase sempre afetados. Às vezes ocorrem lesões articulares. As
lesões microscópicas são semelhantes às da tuberculose.
O diagnóstico é baseado nas lesões e no isolamento do
agente. Nenhum tratamento é recomendado, devendo-se sacrificar todos os animais
doentes. A prevenção da entrada de roedores selvagens na colônia e aquisição de
cama, água e ração de fontes confiáveis são medidas indispensáveis no controle
dessa enfermidade.
ESPIROQUETOSE
Doença raramente diagnosticada em coelhos, específica dessa
espécie, causada por Treponema cuniculi, transmitida durante o coito.
Essa enfermidade venérea se caracteriza pela presença de
áreas erosivas, ulceradas ou por pequenas pápulas nas áreas desprovidas de pêlo
da genitália externa. As lesões podem estender-se ao tarso, lábios, narinas, orelhas
e conjuntivas.
Microscopicamente, as lesões se apresentam como ulceração,
edema, hiperqueratose e infiltrado inflamatório ao redor das áreas de necrose e
dos folículos pilosos.
O diagnóstico diferencial para sarna e queimaduras deve ser
providenciado. O agente pode ser revelado nas lesões por colorações por prata
ou microscopia de campo escuro. O tratamento com penicilina permite manter os
animais recuperados em reprodução.
Apesar de ser uma enfermidade significante apenas entre os
coelhos selvagens, trata-se de uma zoonose fatal para o homem. O agente
etiológico é Francisella tularensis, transmitida por contato direto com animais
doentes ou por picada de artrópodes hematófagos, podendo penetrar na pele
intacta ou na conjuntiva.
A doença determina o aparecimento de focos esbranquiçados
puntiformes espalhados por todo o fígado, baço e linfonodos. Microscopicamente,
as lesões têm aspecto caseoso no centro, circundadas por linfócitos, neutrófilos
e macrófagos.
O diagnóstico é confirmado pelo cultivo e isolamento do
agente; não se recomenda qualquer tratamento.
O controle está baseado na eliminação dos animais doentes,
na prevenção da entrada de animais selvagens e insetos vetores na colônia e no
uso de equipamento de proteção individual pelos técnicos de sala.
É uma doença rara entre os coelhos, tendo sido constatados
alguns casos isolados, em que a infecção foi adquirida através da ingestão de
leite de vacas infectadas e de alimentos contaminados por fezes de aves infectadas.
A enfermidade determina um quadro granulomatoso nos pulmões, fígado e baço. A
prova intradérmica Pseudomonas aeruginosa é um agente etiológico comum às
diversas espécies animais, mas tem maior importância para os ratos e
camundongos.
A doença se desenvolve a partir da exposição a animais
portadores ou a fontes de água contaminada. Os sintomas são debilidade geral,
diarréia, disfunção respiratória e morte súbita.
As lesões freqüentemente encontradas são pneumonia e
enterite, mas podem haver casos agudos sem lesões em conseqüência de toxemia (o
microorganismo produz uma exotoxina).
O diagnóstico é feito pelo isolamento do germe a partir de
secreções respiratórias, conteúdo intestinal ou O controle da enfermidade é
promovido pelo tratamento adequado da água (1,5 a 2 ppm de cloro livre e/ou acidificação
até pH 2,5) e do equipamento provedor de água, eliminação dos animais doentes,
prevenção e controle do estresse, principalmente durante a experimentação.
Ocorre freqüentemente em coelhas em lactação ou naquelas que
desenvolvem pseudociese. Os agentes geralmente isolados da lesão são
Staphylococcus sp e Streptococcus sp. A causa primária dessa condição está, na maior
parte das vezes, envolvida com traumatismo, porém alguns fatores, como grades
da gaiola, cama suja, lesões de mamilo, causadas pela própria cria e retenção
de leite, favorecem o aparecimento do quadro. A infecção pode se disseminar com
os láparos.
As fêmeas acometidas apresentam anorexia, febre (> 40,5
°C), sede acentuada e uma ou mais glândulas mamárias hiperêmicas, firmes,
inchadas e de cor azulada. O tratamento consiste na administração de penicilina
por via intramuscular durante 7 dias. O controle se baseia na prevenção dos
fatores predisponentes.
DOENÇAS INFECCIOSAS DE ORIGEM VIRAL
VARÍOLA DOS COELHOS
É uma enfermidade altamente contagiosa, determinada por uma
espécie de vírus do grupo da varíola, adaptada ao coelho. Esse vírus pode ser
transmitido por contato direto ou através de equipamentos/materiais e durante a
manipulação de tratadores.
A doença pode se manifestar de forma hiperaguda, sem o
desenvolvimento de lesões, ou como uma enfermidade menos aguda com formação de
lesões típicas de varíola. Na forma mais leve, há aumento dos linfonodos
poplíteos, erupção macular, seguida de pápulas por todo o corpo, mais
acentuadamente na região inguinal. Mais tarde formam-se crostas amarronzadas
que se soltam das pápulas.
Pode haver perda de dentes, lesões nos lábios e palato.
Quando o sistema nervoso central é afetado, há paralisia dos esfíncteres
urinário e anal. A pneumonia é normalmente a causa mortis. Nas fêmeas grávidas
e em lactação a doença é mais grave, sendo comum o aborto e anomalias
neonatais.
Na forma hiperaguda da doença, o único achado na microscopia
é a broncopneumonia. Nas lesões de pele, podem ser observados invasão
mononuclear, necrose e edema.
O diagnóstico é concluído pelos sintomas clínicos e pela
sorologia. Não existe tratamento, sendo a vacinação a medida de controle mais
eficaz, além da manutenção de boas práticas de manejo.
É uma doença extremamente fatal (mortalidade 100%), causada
por um vírus do grupo da varíola, que tem um artrópode como vetor (mosquitos,
ácaros, pulgas, piolhos e moscas).
O período de incubação varia de 7 a 10 dias e os sintomas se
iniciam com febre, descarga ocular serosa e blefaroconjuntivite, que culmina
com descarga mucopurulenta e edema e pus nos olhos. Tumorações subcutâneas se
desenvolvem no nariz, lábios, orelhas e aberturas genitais, em forma de pápulas
vesiculadas e gelatinosas, que tendem a se generalizar. Após 2 a 5 dias o
animal vem a óbito.
As tumorações estão freqüentemente aderidas à musculatura
adjacente. Apresentam aspecto mucóide, gelatinoso e cor avermelhada. Os
linfonodos estão aumentados e hemorrágicos. Há petéquias na superfície do baço
e esplenomegalia. Broncopneumonia, orquite e epididimite são lesões comuns.
Microscopicamente, ocorre hipertrofia e hiperplasia das células epiteliais,
cujo citoplasma está vacuolado com grânulos eosinofílicos. A derme é mixomatosa e tem grandes células em fuso que representam
fibroblastos hipertrofiados.
O diagnóstico é concluído com base nos dados clínicos,
epidemiológicos e anatomopatológicos. Não há tratamento disponível. O controle
é obtido pela prevenção de insetos e sacrifício dos animais doentes.
FIBROMA DE SHOPE
Esta enfermidade não é comum entre os coelhos de
laboratório, porém sua importância reside na antigenicidade cruzada do vírus do
Fibroma de Shope com o vírus da Mixomatose, podendo o primeiro promover
imunidade de até 6 meses para a mixomatose. O vírus do Fibroma de Shope, também
pertencente ao grupo da varíola, é transmitido por mosquitos ou ácaros vetores.
O quadro clínico da doença é caracterizado por nódulos
subcutâneos únicos ou múltiplos, e os órgãos genitais podem estar edemaciados. A
doença tem curso fatal principalmente para os láparos, enquanto os adultos
podem se recuperar espontaneamente dos tumores subcutâneos.
Na necropsia, as tumorações podem estar presentes também nos
rins, fígado, medula óssea e mesentério. Microscopicamente, os tumores têm
aspecto mixofibromatoso com inclusões citoplasmáticas eosinofílicas. O
diagnóstico definitivo é obtido após provas sorológicas, porém o quadro clínico
e epidemiológico colaboram na elaboração da suspeita clínica. Não há
tratamento, restando a prevenção dos vetores como medida de controle.
DOENÇAS INFECCIOSAS DE ORIGEM FÚNGICA – DERMATOFITOSES
Tratam-se de doenças pouco comuns nos coelhos. Os agentes
que podem estar envolvidos são:
Trichophyton mentagraphytes, Microsporum canis e Trichophyton
gypseum. A transmissão ocorre por contato direto com animais doentes.
Clinicamente, observam-se lesões inicialmente na pele da
cabeça ou orelhas, que se estendem para outras regiões do corpo. O aspecto é
crostoso, hiperêmico, pruriginoso e sem pelo. Os animais são geralmente acometidos
isoladamente, e não em epizootias. Os cortes histológicos das lesões mostram
espessamento da epiderme, hiperqueratose e infiltrado mononuclear na derme. Ressalta-se
a necessidade de diagnóstico diferencial para sarna, carência genética de pêlo,
muda da pelagem, arrancamento da pelagem de ordem comportamental. O diagnóstico
definitivo se faz a partir de raspados de pele em torno da lesão, tratada com
KOH a 10%, revelando a presença de formas fúngicas nas células epiteliais e pelos. O agente pode ser isolado e cultivado em meios próprios para fungos.
A administração oral de griseofulvina (25 mg/kg/dia) durante
14 dias traz bons resultados no tratamento.
Como medida de controle, resta isolar e tratar os animais
doentes, além de evitar contato com outros animais invasores. O homem pode
servir de fonte de infecção como também pode se contaminar, sendo exigida adequada
higienização antes e depois de manipular os animais para efetivo controle da
doença.
DOENÇAS PARASITÁRIAS
Haemodipsus ventricosis é um piolho sugador que raramente
acomete os coelhos de laboratório. A parasitose traz como maiores danos uma
dermatite no local da picada e um quadro de anemia nas infestações acentuadas. Confirmada
a presença do piolho na base do pêlo durante o exame clínico, o tratamento
indicado é a aplicação de compostos inseticidas na pele e no pêlo do animal.
A quarentena dos animais recentemente adquiridos permite
prevenir a instalação da doença entre os animais. Psoroptes cuniculi é um
ácaro, parasita do conduto auditivo externo, comumente encontrado nas colônias
de coelhos de laboratório, que determina a presença de material crostoso,
fibrinoso de cor amarronzada na base da orelha. Os ácaros são extremamente irritantes,
causando prurido intenso.
Os animais balançam intensamente a cabeça, chegando a
gerar perda de pêlo ao redor do pescoço e lesões por traumatismo. Nos casos
mais severos, a dor é intensa e uma otite média pode se desenvolver.
Os ácaros podem ser visualizados durante o exame otoscópico.
O tratamento consiste na limpeza do conduto auditivo e na aplicação de óleo
mineral com princípio acaricida. É uma condição rara, porém muito contagiosa,
causada pelos ácaros Sarcoptes scabei (cuniculi) e Notoedrus cati (cuniculi).
As lesões são tipicamente pruriginosas, com áreas hiperêmicas em forma de
arranhões. O raspado de pele da lesão ver ela a presença do ácaro. O tratamento
nem sempre é eficaz e consiste na aplicação tópica de soluções acaricidas.
Dessa forma, a medida de controle mais indicada é a eliminação dos animais
doentes.
ENDOPARASITOS
Nematódeos considerados incomuns nos coelhos de laboratório
Obeliscoides cuniculi Ciclo vital direto
Graphidium strigosum Infecções severas → gastrite
hemorrágica, anemia e diarréia
Passalurus ambiguus Ciclo vital direto
Passalurus nonannulatus Irritação e prurido na região anal
Trichuris leporis Ciclo vital direto, habita a luz cecal
Capillaria hepatica Ciclo vital direto
Hepatomegalia
É uma zoonose
Raramente se observa parasitismo por esse tipo de helminto
nos coelhos de laboratório. Entretanto, vale ressaltar que não existe
tratamento eficaz no controle desse tipo de parasitose, sendo o mesmo
resultante do isolamento de outras espécies, da oferta de ração industrializada
e da manutenção de água e cama afastados de outros animais.
Cittotanenia denticulata Os coelhos são os hospedeiros
definitivos e os ácaros são os intermediários. Cysticercus pisiformis Forma
larval de Taenia pisiformis (cão). Os cisticercos podem ser encontrados na Coenurus serialis Forma larval de tênia
Multiceps serialis. Os cisticercos são encontrados na musculatura Cysticercus
fasciolaris Forma larval de Taenia taeniaformis (gato). Os cisticercos se
localizam no fígado e Echinococcus granulosus Os coelhos e outros mamíferos são
hospedeiros intermediários, o cão é o definitivo. Os cistos podem estar no
fígado, pulmões, cérebro e linfonodos.
Encefalitozoonose
Doença amplamente distribuída entre os coelhos de
laboratório, causada pelo Encephalitozoon cuniculi. Também afeta outras
espécies como ratos, camundongos, cães e o homem. A transmissão se dá por
contato direto, sendo a fonte de infecção a urina dos animais doentes. Nos
coelhos já foi constatada a infecção transplacentária. O quadro clínico é
aparentemente assintomático.
Lesões macroscópicas estão ausentes. Microscopicamente,
evidenciam-se lesões focais no cérebro em forma de pequenos granulomas
disseminados, com ou sem necrose. Os granulomas são compostos de células
inflamatórias mononucleares com o parasita no seu centro, havendo infiltrado
perivascular ao redor dos granulomas. Ocasionalmente, ocorre meningite não
supurada. Nos rins, ocorre nefrite intersticial crônica, com fibrose
inversamente proporcional ao infiltrado mononuclear. Os parasitas podem estar
livres na luz
O diagnóstico é geralmente confirmado pelos achados
histopatológicos e pela visualização e identificação do parasita nas lesões. O
agente deve ser diferenciado de Toxoplasma gondii, por diferença de tamanho e
por coloração. Não há tratamento disponível. O controle é efetivo mediante a
eliminação dos animais doentes. Apesar de se tratar de uma zoonose, poucos
casos foram relatados em seres humanos.
Toxoplasmose
Toxoplasma gondii é transmitido ao coelho por via oral, a
partir do contato com fezes de gatos que estejam eliminando oocistos, ou
através da transmissão vertical. A doença pode ter curso agudo, crônico ou ser
clinicamente inaparente. Os sintomas, quando presentes, dependem da localização
das lesões causadas As lesões, em geral, caracterizam-se por focos de necrose e
edema em qualquer dos órgãos afetados, sendo mais hiperplásicas nos casos
crônicos. As localizações mais freqüentes são sistema nervoso central e baço.
O diagnóstico é feito por intermédio de provas sorológicas.
Não há tratamento disponível. O controle é baseado na eliminação dos animais
doentes e na prevenção de contato com fezes de gatos. Trata-se de uma zoonose
de especial importância para mulheres grávidas.
Coccidiose hepática
É uma doença bastante prejudicial para colônias de produção
de coelhos, sendo causada pela Eimeria stiedae. A via de infecção é oral e a
fonte são fezes de animais infectados. O quadro clínico pode ser agudo, crônico
ou assintomático. Os animais jovens são mais susceptíveis. Os sintomas, quando
presentes, são decorrentes de disfunção hepática.
Na necropsia, são observados nódulos branco-amarelados
espalhados pela superfície do fígado, podendo haver fibrose extensa nas
infecções severas. Microscopicamente, evidencia-se destruição e hiperplasia do
epitélio ductal e dilatação dos canais biliares, com fibrose periductal. Os
parasitas estão dentro das células epiteliais dos canais e no exudato cremoso
na luz dos canais biliares.
O diagnóstico é feito pela pesquisa dos oocistos nas fezes,
mas a necropsia é essencial para confirmação da doença, visto que não é
possível diferenciar dos oocistos intestinais. Embora de baixa eficácia, o
tratamento consiste na administração oral (na água ou na ração) de sulfonamidas
de ação entérica (sulfaquinoxalina, sulfametacina e sulfadiacina), na dosagem
de 100 mg/kg a cada 12 horas durante 2 semanas. Boas práticas de manejo e
higiene, assim como a eliminação dos animais doentes, associada ao exame de
fezes de animais em quarentena, favorecem o controle da doença.
Coccidiose intestinal
Esta enfermidade apresenta caráter misto, podendo estar
associada a várias espécies de Eimeria: E. magna, E. irresidua, E. perforans,
E. media e E. neoleporis. Esses parasitas atacam a mucosa do duodeno e íleo,
determinando destruição do epitélio, necrose, edema e, dependendo da espécie,
pode destruir glândulas da submucosa.
Clinicamente, os animais apresentam diarréia mucóide, às
vezes com perda de sangue, emagrecimento e desidratação. Como não há o
desenvolvimento de imunidade permanente, a doença pode reaparecer em situações
de estresse.
O diagnóstico é confirmado pela presença de oocistos nas
fezes ou em raspados da mucosa intestinal. O tratamento e controle são
semelhantes aos da coccidiose hepática.
DOENÇAS NÃO-INFECCIOSAS
MÁ-OCLUSÃO DENTÁRIA
Defeitos de oclusão e crescimento exagerado dos incisivos
têm etiologia genética para os coelhos. Os reprodutores com tais más-formações
devem ser eliminados da criação. Os animais apresentando crescimento exagerado
devem ter seus incisivos cortados periodicamente para permitir a apreensão
adequada do alimento.
A falta de cuidado com esses animais não raro leva à morte
por inanição.
CALOS DE POSIÇÃO
A manutenção de animais pesados em pisos de arame favorece o
desenvolvimento de lesões nas superfícies plantares dos pés, por conta da
pressão do peso sobre o piso. Nesses casos, fica indicada a limpeza periódica da
gaiola e utilização de material macio sobre o piso a fim de promover um
descanso para o animal.
BIBLIOGRAFIA
CANADIAN
COUNCIL ON ANIMAL CARE (CCAC). Guide to Use and Care of Experimental Animals.
Otawa: Canadian Council on Animal Care, 1984.
ORGANIZACIÓN
PANAMERICANA DE LA SALUD (OPS). Temas Seleccionados sobre Medicina de
Animales de Laboratório: el conejo. Rio de Janeiro: CPFA/OPS/OMS, 1976. (Serie
Monografias Cientificas y Tecnicas)
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