Manejo reprodutivo e patologias em coelhas




By: Ana Silva; Andreia Gil; Elsa Kalthoff; Rita Ventura



Trabalho de clínica de Espécies Pecuárias

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro



Introdução/objetivos: Pretendemos acompanhar o maneio e as patologias mais frequentes num grupo de 102 coelhas reprodutoras. As coelhas estão alojadas em jaulas individuais, onde é adicionado um ninho alguns dias antes do parto. A alimentação é à base de ração.



Com o objetivo de fazer as necrópsias das coelhas que morreram ou das que por motivos de doença foram eutanasiadas, sendo também observados os sinais clínicos em vida. E efetuar os cálculos das taxas de fertilidade, prolificidade e mortalidade.



Materiais e Métodos: Uma exploração de coelhos da universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com um ensaio reprodutivo em 102 fêmeas adultas. Acompanhamento das operações de maneio e profilaxia tais como desparasitações, vacinações e inseminações artificiais. Foram também efetuadas as necrópsias de todas as reprodutoras mortas ou entanasiadas que apresentavam patologias. O ensaio iniciou-se dia 6 de Setembro e a 21 de Setembro foi realizada uma desparasitação com 0,2ml de Ivomec por animal e por via subcutânea.



A 29 de Setembro os animais foram vacinados contra a Mixomatose e a Doença Hemorrágica Viral (DHV) com MixoHipra FSA por administração subcutânea de 0,5ml por animal (vacina heteróloga). Seguiu-se uma vacinação homóloga contra a DHV a 19 de Outubro, com Arvilap por administração subcutânea de 1ml por animal.



Por último foi efetuado um reforço para a mixomatose com uma vacina homóloga a 9 de Novembro com MixoHipra H por administração subcutânea de 0,5ml por animal.  A nível de maneio reprodutivo foi efetuado o controle da luz (com aumento para 16 horas) e indução do cio com PMSG (Intergonan - 1 ml por animal por via subcutânea) dois dias antes da inseminação artificial.



A inseminação artificial foi efetuada com sémen fresco diluído numa dose de 0,5 ml por animal sendo também dada, no momento da IA uma injeção intramuscular de 0,2ml de hCG para indução da ovulação.



Fez-se uma palpação abdominal para confirmação da gestação cerca de 15 dias depois da inseminação/ 15 dias antes do parto (gestação de cerca de 32 dias).



Foram contados os nados-vivos e os nados-mortos e as ninhadas foram pesadas e uniformizadas (9 ou 10 láparos por coelha). Realizou-se uma nova indução com PMSG uma semana após o 1º parto.



Resultados (um ciclo de reprodução em 102 fêmeas):



1. Índices económicos e reprodutivos:

Como resultados obtivemos os seguintes índices reprodutivos:



Taxa de Fertilidade = nº fêmeas paridas/ total fêmeas em reprodução = 89/102 = 0.8725



Taxa de Prolificidade = nº crias produzidas/nº fêmeas paridas = 943/89 = 10.5955



Taxa de mortalidade das reprodutoras = nº de animais mortos/total de animais = 13/102= 0,127



Taxa de mortalidade ao desmame = nº animais mortos ao desmame/total animais = 172/801 = 0,215



Taxa de mortalidade ao nascimento = nº nados-mortos/total de nascimentos = 70/943 = 0.074



2.Patologias observadas á necropsia:

Total de necrópsias: 18 (13 em coelhas reprodutoras e 6 em coelhos de engorda)

Das 13 coelhas necropsiadas 5 foram eutanasiadas. As causas das eutanásias foram uma sarna, uma diarreia, um abcesso na zona submandibular e duas com paralisia dos posteriores.

Fígado gordo (suspeita de toxemias de gestação) – 5 (38,46%)

Pneumonia – 1 (7,69%)

Tiflite – 2 (15,38%)

Sarna – 1 (7,69%)

Diarreia – 1 (7,69%)

Abcesso na zona sub-mandibular – 1 (7,69%)

Fratura de coluna – 1 (7,69%)

Sem alterações á necrópsia – 1 (7,69%)

Enteropatia mucoide – 6 (0,69%)



Discussão:

Pneumonia: Os agentes mais frequentes, segundo Lieve Okerman, são Pasteurella multocida e Staphilococcus aureus. Para as diferenciar correctamente é necessário fazer um exame bacteriológico (que não estava ao nosso dispor). A pneumonia por Pasteurella multocida é geralmente uma pleuropneumonia purulenta enquanto que a causada por S. aureus é muitas vezes caracterizada por pequenos abcessos no pulmão. A pneumonia causada por Bordetella bronchiseptica é muito rara.



Existem ainda outras infecções que causam pneumonia e lesões pulmonares tais como: Clamidiose, Tuberculose, Pseudotuberculose, Aspergilose, Toxoplasmose, Mixomatose, Impactação cecal, Pseudomonas aeruginosa.



Fratura de coluna: É frequente ocorrer em coelhos de produção e tem como possíveis causas o mau manuseamento, quedas, saltos nas jaulas, etc…



A coluna vertebral dos coelhos não é muito flexível e quando sujeita a stress quebra mais frequentemente na zona mais frágil, geralmente na 7 vértebra lombar, ou seja na zona lombosagrada.



Paralisia dos posteriores: Á necropsia não apresentava evidências de fratura de coluna. Existem no entanto outras possíveis causas entre as quais: hipocalcemia (aproximadamente 3 semanas pós parto), listerose, doença de Borna, toxoplasmose crónica, encefalitozoonose, piometra, nematodirose, cérebro-espinal, avitaminose A e causa congénitas.



Toxemia de gestação: Segundo Jo Lynne Wilber (1999), esta desordem ocorre geralmente na última semana de gravidez. Primíparas e animais obesos com planos de nutrição de alto valor calórico que apresentam anorexia repentina são os grupos de maior risco. No exame post-mortem observa-se excessiva acumulação de gordura por todo o organismo, com esteatose hepática exuberante e infiltrações de gordura a nível renal e das glândulas adrenais.



Sarnas: As lesões foram observadas na cabeça e nas patas e são compatíveis com a presença de Sarcoptes scabei (mais frequente) e também de Psoroptes cuniculi e Demodex cuniculi.



Diarreias e tiflites: Podem ter inúmeras causas sendo necessário fazer exames mais específicos (que não se encontravam ao nosso dispor) para o seu diagnóstico clínico.



Abcesso na zona sub-mandibular: Os abcessos subcutâneos têm como agentes etiológicos mais frequentes a Pasteurella multocida e o Staphilococcus aureus e mais raramente Streptococcus B-hemolitico.



Enteropatia mucoide: Tem uma etiologia multifactorial (bactérias, toxinas, irregularidades na dieta e/ou obstrução).

Segundo Jo Lynne Wilber (1999) é a maior causa de doença e mortalidade em coelhos jovens (7-10 semanas). É uma doença subaguda frequentemente fatal.



Conclusão: O nosso trabalho foi baseado num estudo realizado pelo departamento de zootecnia, que nos permitiu acompanhar toda a evolução do ensaio e facultou-nos dados essenciais á realização do cálculo dos índices económicos e reprodutivos. É importante salientar que não tínhamos ao nosso dispor todos os meios de diagnóstico necessários para as necrópsias realizadas sendo alguns resultados inconclusivos.



Neste estudo, a maioria das coelhas reprodutoras apresentadas á necrópsia, demonstravam lesões de fígado gordo levando á suspeita de toxémia de gestação, com uma percentagem de 36,48%.

A taxa de mortalidade dos coelhos de engorda foi muito reduzida (0,69%) sendo a única causa observada a enteropatia mucóide.



A mortalidade das crias foi significativamente maior no período até ao desmame (21,5%) em relação à mortalidade no parto (7.4%) e este facto dever-se-à provavelmente à extrema sensibilidade destes animais aos agentes patogénicos do ambiente, ninhadas demasiado grandes, maneio inadequado, entre outros.



Referências bibliográficas:

·         Sandford, J. C.; Manual do criador de coelhos; editorial presença; 1987

·         www.criareplantar.com.br

·         Okerman, Lieve; Moens, Yves; Diseases of Domestic Rabbits; Library of Veterinary Practice; Second edition; 1994

·         Wilber, Jo Lynne; Patology of the Rabbit; Department of Veterinary Pathology Armed Forces Institute of Patology Washington, D. C.; 12 Agosto 1999 (www.morfz.com/PATHO_RABBIT.pdf)

·         Perez, Lidio Ruiz; El Conejo – Manejo, Alimentación, Patologias; Ediciones Mundi-Prensa; 1976

·         Rossel, J. M.; Health Status of Commercial Rabbitries in the Iberian Peninsula, a Practitioner’s Study

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