Doença hemorrágica viral


(DHV, Hepatite necrótica)
É uma infecção aguda, altamente contagiosa, que afeta primariamente os
lagomorfos domésticos. Primeiramente descrita em 1984 na China, Coréia e
Alemanha, tem sido desde então descrita em outros países europeus e no México.

Etiologia e transmissão – Acredita-se que o agente causador seja um parvovírus, antigenicamente relacionado ao parvovírus suíno e aos parvovírus do camundongo e do rato, embora alguns autores sugiram que possa pertencer às famílias Caliciviridae ou Picornaviridae. A transmissão por aerossóis parece ser importante, embora todas as secreções e excreções também possam ser fontes de infecção. A transmissão mecânica, através de fomitos, roedores e outras pestes, subprodutos de coelho e do homem, também pode ser importante. Os insetos não parecem ser vetores importantes. A doença ocorre mais freqüentemente nos coelhos domésticos. As fêmeas em lactação e gestação são as mais suscetíveis, seguidas dos outros adultos; os coelhos jovens (< 2 meses de idade) são os mais resistentes. A existência de portadores entre os animais domésticos sobreviventes e os silvestres ainda não foi determinada, mas suspeita-se que ocorra.

Achados clínicos – O período de incubação é curto (24 a 72h). Tipicamente, os coelhos são encontrados mortos, sem nenhuma indicação prévia de enfermidade na colônia. Nos casos mais demorados, podem-se observar dispnéia, congestão das pálpebras, ortopnéia, respiração abdominal, taquicardia e agitação aumentada. Antes da morte, ocorre atividade violenta na gaiola, com voltas e saltos rápidos, que lembram convulsões ou mania. Algumas vezes, os únicos sinais relatados são gritos agudos, seguidos rapidamente de colapso e morte. Em alguns casos, pode-se observar uma descarga nasal tingida de sangue. Também se têm descrito pisos tingidos de sangue sob gaiolas em que tenham morrido animais. A morbidade é estimada em 30 a 80%, com a mortalidade atingindo até 80 a 90%.

Lesões – Devido ao curso rápido, os animais encontrados mortos estão geralmente em boas condições. As lesões macroscópicas são sutis e geralmente limitadas a congestão do trato respiratório e fígado. O trato respiratório parece ser o mais afetado, com congestão intensa da traquéia e pulmões. A traquéia pode estar preenchida com espuma, algumas vezes tingida de sangue. São comuns as hemorragias no timo. Podem-se observar congestão suave a acentuada e aumento de volume do fígado, baço e rins. O fígado pode apresentar áreas superficiais castanho-amareladas. Também se tem descrito a congestão das meninges. Observa- se distensão do intestino distal com gás, mesmo quando a necropsia foi realizada imediatamente após a morte. As áreas proximais ao intestino geralmente estão completamente preenchidas por ingesta.

Histologicamente, ocorre necrose de coagulação focal hepática, submaciça a maciça. Nos pulmões, podem-se observar hemorragias em grupos de alvéolos. As lesões no baço variam de congestão simples a necrose e hemorragia. Também se observam áreas focais múltiplas de necrose no miocárdio. Nos casos de campo, registra-se necrose grave das criptas do intestino delgado; o mesmo achado foi mais discreto em coelhos de laboratório inoculados.

Diagnóstico – A característica mais destacada é o curso superagudo da doença. Isso, junto a distúrbio respiratório, alta mortalidade e rápida disseminação, sugere um diagnóstico presuntivo. As suspensões teciduais de fígado, baço e pulmões hemaglutinam hemácias humanas, Tipo O. O soro de coelhos convalescentes inibe a aglutinação. Testes de imunofluorescência e técnicas de imunocoloração também têm sido utilizados para identificar o antígeno viral; fígado, baço e pulmão são os espécimes de escolha, já que contêm altas concentrações do vírus. Devem ser enviados ao laboratório, utilizando-se gelo ou gelo seco, se o período de envio for estimado em > 48h.
A DHV deve ser diferenciada das formas agudas das outras doenças de coelhos, como a pasteurelose, mixomatose atípica, enterotoxemia e o envenenamento.

Prevenção – Devem-se adotar medidas de quarentena absoluta nos coelhos que chegarem de países onde a DHV esteja presente. A documentada resistência aumentada dos coelhos jovens pode ser devida a imunidade passiva adquirida a partir da ingestão de anticorpos colostrais contra o parvovírus leporino apatogênico. Tem-se desenvolvido, em vários países, uma vacina que confere proteção por 6 meses, a qual está sendo comercializada na
Espanha. A vacina deve ser usada apenas onde a doença já estiver bem- disseminada e os esforços de erradicação sejam difíceis de empregar. As vacinas têm sido usadas para complementar os esforços de controle, mas podem ser uma desvantagem, se mascararem a infecção ou ajudarem a induzir o estado de portador entre os vacinados.

Fonte: Manual Merck de Veterinária: um manual de diagnóstico, tratamento,

prevenção e controle de doenças para o veterinário / Clarence M. Fraser, editor. -- 7. ed. -- São Paulo : Roca, 1996

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